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Teologia de Santo Atanásio

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TEOLOGIA DE SANTO ATANÁSIO

Pe. José Erinaldo Ferreira de Lima

Introdução


“Na tentativa de eliminar as ambiguidades em torno desta expressão, os estudiosos convencionaram em receber como “Pai da Igreja”1 quem tivesse estas qualificações: ortodoxia de doutrina, santidade de vida, aprovação eclesiástica e antiguidade. Mas, os próprios conceitos de ortodoxia, santidade e antiguidade são ambíguos. Não se espere encontrar neles doutrinas acabadas, buriladas, irrefutáveis. Tudo estava ainda em ebulição, fermentando. O conceito de ortodoxia é, portanto, bastante largo. O mesmo vale para o conceito de santidade. Para o conceito de antiguidade, podemos admitir, sem prejuízo para a compreensão, a opinião de muitos especialistas que estabelece, para o Ocidente, Igreja latina, o período que, a partir da geração apostólica, se estende até Isidoro de Sevilha (560-636). Para o Oriente, Igreja grega, a antiguidade se estende um pouco mais até a morte de S. João Damasceno (675-749). 


Os “Pais da Igreja” são, portanto, aqueles que, ao longo dos sete primeiros séculos, foram forjando, construindo e defendendo a fé, a liturgia, a disciplina, os costumes, e os dogmas cristãos, decidindo, assim, os rumos da Igreja. Seus textos se tornaram fontes de discussões, de inspirações, de referências obrigatórias ao longo de toda tradição posterior.  “Além de sua importância no ambiente eclesiástico, os Padres da Igreja ocupam lugar proeminente na literatura e, particularmente, na literatura greco-romana. São eles os últimos representantes da Antiguidade, cuja arte literária, não raras vezes, brilha nitidamente em suas obras, tendo influenciado todas as literaturas posteriores. Formados pelos melhores mestres da Antiguidade clássica, põem suas palavras e seus escritos a serviço do pensamento cristão. Se excetuarmos algumas obras retóricas de caráter apologético, oratório ou apuradamente epistolar, os Padres, por certo, não queriam ser, em primeira linha, literatos, e sim, arautos da doutrina e moral cristãs. A arte adquirida, não obstante, vem a ser para eles meio para alcançar este fim. (…) Há de se lhes aproximar o leitor com o coração aberto, cheio de boa vontade e bem disposto à verdade cristã. As obras dos Padres se lhe reverterão, assim, em fonte de luz, alegria e edificação espiritual”2. 

Vida e Obras de Santo Atanásio3

Não dá para separar a biografia Santo Atanásio de sua história ligada à controvérsia ariana e da efervescência cristã de Alexandria. Até o fim de sua vida em Alexandria, não teve descanso no combate ao mal do arianismo. Ainda muito jovem, ao lado do seu mestre Alexandre, patriarca de Alexandria, não mediu esforços para se aprofundar na teologia e na fé da Igreja ensinada pelos santos Padres e poder, ir além como homem da teologia e, principalmente, do cumprimento da doutrina sobre o Filho de Deus. Para isso, sofreu um verdadeiro martírio de rejeição dentro e fora da Igreja que ele amava e pela qual gastava-se a cada dia. 

A data mais provável do nascimento de Atanásio é o ano 296 (d.C.), data confirmada, de certo modo, pela idade e ano de falecimento. Em 373, quando faleceu, ele tinha 77 anos de idade. Mediante essas datas, é possível, portanto, concluir o ano de nascimento acima determinado na mesma cidade de Alexandria. Ali nasceu, cresceu, formou-se, tornou-se diácono e bispo. 

Quanto à sua formação na Escola de Alexandria, aprendeu letras e teologia, realidades determinantes em sua vida literária de brilho incomparável. Cabeças dessa Escola, foram os formadores Orígenes, Dionísio, Teognosto e Alexandre, homens de grande peso na construção do pensamento argumentativo e interpretativo de Atanásio. “A sua principal fonte de inspiração era a Bíblia grega: entre os Padres gregos, inspirou-se especialmente em Inácio, Atenágoras, Ireneu, Orígenes . A sua teologia é marcadamente diferente da do seu bispo Alexandre, e menos origenista, de sorte que induz a pensar em um estudo independente”4.

 

Na sua formação discipular, apesar de alguns autores não apresentarem certeza sobre seu contato com Antão, mas, certamente, tendo em vista sua forte atração pela vida ascética e, ainda, ter-se dedicado em apresentar, com muita clareza, a vida do santo monge, não resta dúvida que ele teve contato duradouro com Antão e outros monges de Tebaida5. Seguiu de perto o grande amigo monge, que transparecia Cristo para seus discípulos. Atanásio o seguia de perto, admirava-o. Para ele, a vida monástica era o que mais se aproximava da vida de perfeição querida por Deus e que dava firmeza para todos. Atanásio tornou-se amigo de coração de Antão e de todos aqueles que largavam tudo para viver exclusivamente da vontade de Deus. Manteve sempre um cuidado especial pelos monges, acolheu São Pacômio e nunca os abandonou mesmo em exílio. 

Ainda jovem, aos 17 anos, no ano 313 do estabelecimento do Edito de Milão, que concedia liberdade aos cristãos, recebeu do bispo Alexandre o cargo de leitor e, poucos anos depois, foi ordenado diácono em 319 pelo mesmo bispo Alexandre de Alexandria do qual se tornara também seu secretário e, em tais condições, em 325, aos 29 anos, participou do Concílio de Niceia. Ali, mesmo não sendo bispo, “desempenhou um papel de destaque”6. Num determinado momento, foi-lhe dada a palavra com o incentivo do bispo Alexandre, que confiava despreocupadamente naquilo que ele poderia afirmar. Com palavras claras, diretas e cortantes como espada de melhor qualidade, descortinou o propósito sórdido dos arianos, perguntando imediatamente, “Quem vos enganou, homens sem juízo, para que chameis criatura ao Criador”?7

Suas palavras foram acolhidas com entusiasmo pelos bispos da verdade e, por outro lado, foram causa da maior rejeição de sua vida por parte dos arianos. O ódio a Atanásio acentuou-se a partir daquela participação exemplar e precisa contra os inimigos da Igreja e da divindade de Jesus Cristo. Os arianos escolheram Atanásio como seu inimigo mais perigoso e, por isso, dedicaram-se apaixonadamente à sua inteira destruição. Os bispos de fé autêntica, por sua vez, viram em Atanásio um futuro brilhante, um homem de fé autêntica, um sinal de Deus para a Igreja. Certamente, aquele jovem diácono estava “destinado a ser o campeão da fé, …, o campeão de Cristo, o campeão da verdade”8. Cinquenta anos depois, escreve São Gregório Nazianzo sobre a participação de Atanásio no Concílio: “Em Nicéia, os arianos prestam bem atenção ao valoroso campeão da Verdade: de estatura baixa, quase frágil, mas de postura firme e de cabeça erguida. Quando se levanta, como que se sente passar uma onda de ódio através dele. A maioria da assembleia olha com orgulho para aquele que é o intérprete do seu pensamento”9. 

Três anos mais tarde (328), com a morte de Alexandre, os bispos do Egito, mediante o apoio da multidão do povo de Deus, elegeram Atanásio bispo de Alexandria com a idade de 32 anos. Importante frisar aqui a participação de todo o povo na eleição de Atanásio. Os bispos estavam reunidos, e o povo também fez sua parte, cercando a igreja e gritando o nome desse campeão da fé. Tanto os bispos quanto o povo de modo geral, certamente por iluminação do Espírito Santo, não conseguiam ter em mente ninguém mais adequado e mais preparado do que ele para assumir o lugar do grande patriarca Alexandre formador do próprio Atanásio. Por unanimidade, o inimigo dos hereges foi colocado no trono episcopal do mais famoso centro da fé depois de Roma. 

Bento XVI chama Santo Atanásio de “autêntico protagonista da tradição cristã” e, citando S. Gregório de Nazianzo (21,26), afirma que ele foi “a coluna da Igreja” e, ainda, “modelo de ortodoxia, tanto no Oriente com no Ocidente”. Para o santo padre, Atanásio “foi, sem dúvida, um dos Padres da Igreja antiga mais importantes e venerados”, “um grande santo”, portanto, e “o mais importante e tenaz adversário da heresia ariana”10.

Homem de posições enérgicas, Atanásio “é uma figura que se impõe; ele parece personificar a própria Igreja. Um historiador pode afirmar: até quando estiver de pé um homem como Atanásio, apesar de se desencadear contra ele todas as forças do mundo, a luta ainda não está perdida”11. Como entender um homem desse porte? Não bastam os dons naturais para explicá-lo12. Todas suas energias foram aplicadas no conhecimento de Deus enquanto Deus e no Verbo Encarnado especialmente. Atanásio é o santo da divindade e da humanidade do Verbo de Deus. A grande paixão de Atanásio é Jesus Cristo. Por Ele dedicou toda sua existência. Pelo fato de ser um homem da verdade e pela verdade, enxerga além dos demais a decadência de Ário, a fraqueza de muitos da Igreja e as grandes limitações do imperador, que facilmente cede ao arianismo. 

Exílios

    • 335-337 – Atanásio foi exilado em Tréveris, Alemanha. Seus inimigos realizaram um sínodo em Tiro (335), tentaram depô-lo, o que não aconteceu, mas o imperador o exilou em Tréveris. Em 337, morre o imperador, e Atanásio retorna com a permissão do novo imperador, Constantino II.

    • 339 – Atanásio é novamente exilado em 22 de fevereiro de 346 no Ocidente, principalmente em Roma. Atanásio foi deposto pelo sínodo de Antioquia e, no seu lugar, colocaram como bispo um sacerdote excomungado chamado Pisto. Por causa de sua incapacidade, o partido eusebiano encarregou Gregório de Capadócia para assumir o lugar de Atanásio. Em 341, o Papa Júlio I convocou um sínodo que declarou Atanásio livre de culpas e único bispo legítimo de Alexandria pelo sínodo de Sárdica (343). Tendo morrido Gregório de Capadócia em 345, Atanásio retorna em 346. Acentuando-se os problemas contra Atanásio, o imperador Constantino convocou um sínodo em Arles (353) e outro em Milão (355), objetivando condenar Atanásio. No seu lugar, foi colocado Geórgio de Capadócia. 

    • 356 - 22 de fevereiro de 362 no deserto. Atanásio foge pela 3ª vez. Dessa vez, ele passa seis anos com os monges do Egito. 

    • Esses três primeiros exílios foram muito difíceis, mas muito fecundos na vida dele. Mesmo no deserto, não parava suas atividades. Por esse período, acontece a morte de Antão. Então, Atanásio não perde tempo e escreve a Vida de Antão, um modelo de monge. Também escreve outros textos contra os arianos. Em 362, imperador Juliano chama de volta vários bispos exilados, possibilitando a Atanásio seu retorno à Alexandria.

    • 362 – novamente, em novo sínodo em Alexandria, Atanásio é desterrado até 363 ao falecer Juliano. 

    • 365 - 1º de fevereiro de 366. Dá-se seu quinto desterro pelo imperador Valente, que, por pressão popular, foi obrigado a derrogar tal medida e possibilitar o retorno de Atanásio.

    • Em 373, Atanásio partiu para os braços do Pai as 77 anos. 
      
    • Pela sua fidelidade e profundas obras escritas para a Igreja, foi declarado doutor da Igreja. 

 

O defensor de Niceia 1

Como pastor e teólogo, Atanásio foi antes de tudo o homem da “fé nicena”. Ele fizera do reconhecimento do concílio por toda a Igreja o objetivo de sua ação, e do símbolo a norma intangível da fé, inculcando assim a ideia de que a decisão dogmática de um concílio ecumênico tem valor de regra para a fé. Sua política religiosa a respeito das diversas dissidências, quer se tratasse do próprio arianismo ou de reticências relativas ao símbolo, nunca variou: impor como condição para comungar a aceitação sem reserva da fórmula de Niceia, e nada mais que isso. No máximo, sob a pressão de ataques diretos na metade do século, aceitará um modesto acréscimo concernente ao Espírito Santo, que “não é uma criatura”. Seus escritos dogmáticos, principalmente o tratado Contra os Arianos, a carta Sobre os decretos do concílio de Niceia, refutando ao mesmo tempo, longamente, as teses de Ário e a leitura ariana da Escritura, tendem incansavelmente a defender e explicar o símbolo. Atanásio ressalta claramente o fato de que falar da identidade absoluta entre substância e natureza em Deus é necessariamente ser levado a dizer que há apenas “uma substância” ou natureza do Pai, do Filho e do Espírito Santo. No Ocidente, Tertuliano também já havia afirmado “una substantia”.

Outra contribuição notável de Atanásio à teologia é a doutrina que esboçou em suas Cartas a Serapião, bispo de Thmuis, no Egito, a respeito do Espírito Santo. Em 350, a divindade do Espírito Santo foi atacada com veemência em diferentes meios. As Cartas a Serapião, redigidas em 360, mais ou menos, são a primeira resposta da teologia ortodoxa e primeiro esboço de uma doutrina do Espírito Santo na Trindade. Atanásio quer mostrar que este está, no que diz respeito ao Filho, na mesma relação de igualdade que o Filho em relação ao Pai. Sua tentativa, que explora sistematicamente os textos do Novo Testamento, abre o caminho aos teólogos capadócios e a Santo Agostinho para uma reflexão mais profunda sobre o mistério do Espírito. 

Os escritos teológicos de Atanásio lembram Ireneu, uma de suas fontes. Há uma semelhança de estilo simples, mesma lucidez na fé, mesmo sentido do essencial, mesma preocupação da fidelidade à Escritura, um vocabulário igualmente simples e pouco técnico. Apenas a violência verbal da polêmica é mais acentuada, à maneira da época das grandes controvérsias dogmáticas. A força da teologia de Atanásio, como a de Ireneu, resulta de SEU ENRAIZAMENTO NA BÍBLIA E NA FÉ VIVA DA IGREJA. Assim, seu argumento em favor da divindade do Filho e do Espírito Santo é que no batismo eles nos conferem a filiação divina ou, segundo a linguagem dos Padres gregos desde Clemente de Alexandria, eles nos “divinizam”; como o poderiam, se eles próprios não possuíssem a divindade? Constata-se uma vez mais, a influência exercida sobre a explicação da fé trinitária pela prática do batismo e pela consciência que a Igreja teve de seus efeitos. O que a comunidade cristã vive nos sacramentos precede e guia a reflexão teológica. 

Atanásio foi uma testemunha da fé. Alguns limites de Niceia não foram resolvidos por ele. Niceia, afirmando a unidade divina, não havia sugerido nenhuma linguagem concernente à distinção real entre o Pai, o Filho e o Espírito, distinção que ele se contentava em afirmar implicitamente (…). Niceia também não definira nada a respeito da fé na Encarnação do Verbo, proclamando apenas que ele “se fez carne e se fez homem”, duas expressões sinônimas na época. É sabido que os arianos negavam a presença de uma alma propriamente humana em Cristo. Além disso, eles acentuavam as limitações psicológicas de Cristo: o progresso em sabedoria, a ignorância do dia do julgamento, a tristeza e o temor ao se aproximar da Paixão etc., para concluir que esses limites eram os mesmos do Verbo, uma vez que, segundo eles, este era reduzido, pela Kênosis, à categoria de alma de Cristo.
 

Doutrina sobre Deus

A doutrina sobre Deus de Atanásio se situa na tradição platônica e alexandrina. Atanásio rejeita concepções antropomórficas bem como o politeísmo e descreve Deus em termos negativos, como imaterial e incorpóreo (αυλος, ασωματος …), eterno e imutável (…), realidade onipresente e perfeitamente simples, sem qualidade ou acidentes (...). Deus, entretanto, tem vários atributos (…). Atanásio descreve Deus como incompreensível e que transcende toda categoria de pensamento humano. Permite, no entanto, descrições metafóricas, e utiliza o termo φως (luz) com as suas associações origenianas de poder e pureza intelectual: menos comum πνευμα (vento, espírito), raramente νους (mente). Deus é aquele que governa tudo (παντοκρατωρ = todo-poderoso, onipotente: pan – tudo; kràtein – dominar); que criou o mundo e opera nele através do seu Logos; a sua ação no tempo procede de sua vontade e o mesmo diga-se da Encarnação. Atanásio destaca a generosidade criativa de Deus e o cuidado amoroso para com o homem (φιλανθρωπια) junto com alguma característica humana peculiar, no que se refere à sua própria honra 1. 

Sobre a Trindade

O pensamento de Atanásio sobre a Trindade se fundamenta na convicção de que o Pai manifestou plenamente a Si próprio na geração eterna do Logos (Pv 8,25, γεννα με) (…). O Logos é a Sabedoria e o Poder de Deus, pertencente (Ιδιος: próprio, particular) à essência do próprio Deus. A doutrina atanasiana se desenvolve através da oposição ao conceito ariano de Logos como poder divino dependente. Atanásio insiste na necessidade do termo niceno homoousios (ομοουσιος = mesma essência) para exprimir a unidade do Filho com o Pai. O seu significado pode ser ilustrado pelas analogias que ele utiliza, em especial aquela da luz e de sua luminosidade: desta feita o Filho é distinto mas não separável do Pai; não é o próprio Pai mas a sua expressão única. A doutrina sobre o Espírito é elaborada nas Epístolas a Serapião. O Espírito é contemplado não como sendo doado ao Filho, mas como dom do Filho à sua Igreja; Ele fala nas Escrituras e inspira os seus santos. Assim, o Pai realiza tudo através do Verbo no Espírito 2. 

Segundo Atanásio, “a Trindade não depende da criação do mundo. Existe, em sua plenitude de vida, com independência dela. Deus não necessita produzir primeiro um intermediário ou demiurgo para poder criar o mundo (…). Porém esse mediador é, desde toda a eternidade, Deus como o Pai, não é gerado para esse fim (…). Ainda sem a criação, o Filho existiria sempre junto ao Pai (…). A geração do Filho pelo Pai não significa cisão, nem corte, nem tampouco paixão. (…) a essência do Pai foi sempre completa, sem necessidade de que ninguém lhe venha acrescentar o que lhe pertence. (…) sua geração é eterna porque sua natureza é completa. A essa coeternidade do Filho corresponde sua perfeita divindade por natureza e verdade (φυσει και αληθεια), não por graça (κατα χαριν) como ocorre na divinização dos homens (...). O Filho é próprio do Pai segundo a essência (κατα`ουσιαν), não é uma parte do Pai3. Sendo essencialmente gerado, o Filho não vem, portanto, da vontade do Pai, mas da realidade mesma da natureza. O arianismo afirmava da vontade do Pai, o que seria uma criação. Atanásio rebate tal tese, pois não se trata de uma vontade criativa, mesmo não sendo nada involuntário em Deus. A geração é eterna e necessária. O Pai é eternamente Pai, o Filho é, por sua vez, eternamente Filho, de modo que nunca houve um tempo em que o Pai não fosse Pai, nem o Filho, Filho. Para Atanásio a única substância da Trindade é a substância do Pai da qual procede o Filho essencialmente desde toda eternidade. 

Atanásio tem como preocupação afirmar que o Filho é Deus. Mais tarde, também, escrevendo a Serapião, afirmar que à mesma divindade pertence o Espírito Santo. Quanto à linguagem técnica da distinção das divinas Pessoas na unidade da substância vai ser matéria para os capadócios (Basílio, Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo) e, depois, Agostinho de Hipona. Certamente, Atanásio tratou da questão da unidade trinitária, mas não se deteve como o fizeram os capadócios. Para ele, as Três Pessoas da Trindade são inseparáveis em si e na unidade de operação. Em suma, Atanásio colocou os fundamentos necessários para o desenvolvimento do tratado sobre o Mistério da Santíssima Trindade. 

Cristologia de Atanásio


“A cristologia de Atanásio proclama o Verbo divino operante em três domínios: Ele é unido eternamente ao Pai; governa o mundo que criou como Logos; finalmente, quando chegou a plenitude dos tempos, nasceu como homem e se uniu à nossa raça humana”1. Atanásio “gosta de qualificar Jesus Cristo como Κυριος και Σωτερ” (Senhor e Salvador). Em sua teologia, ele “procura dirigir toda a atenção para o Verbo como criador e re-criador dos homens. Nesse sentido, toda a sua teologia pode ser compreendida como uma doutrina sobre a salvação realizada na encarnação do Verbo”2. Portanto, sua reflexão permanece fundamentalmente soteriológica: “é da salvação operada por Cristo que se trata primordialmente”3. Resumidamente, “a sua soteriologia pode ser reconduzida à simples antítese sárkosis-theiopoíesis (= encarnação-divinização)”4.

“Com efeito, baseia-se aí a ‘temática do intercâmbio ou comércio’ entre a divindade do Verbo e a nossa humanidade, difundida no discurso atanasiano: ‘Pois Ele próprio se fez homem, para que nós fôssemos divinizados; Ele próprio se tornou visível com um corpo, para que nós pudéssemos fazer uma ideia do Pai invisível; Ele próprio sofreu a violência dos homens para que nós obtivéssemos a imortalidade. 

Por certo, para que o Verbo possa realmente realizar a nossa salvação, é preciso, antes de tudo, que Ele seja verdadeiramente igual ao Pai: só Aquele que é verdadeiramente Deus pode divinizar-nos. Sob este ponto de vista, é positivamente inaceitável a posição ariana: a luta contra ela constituirá um elemento fundamental da vida e da reflexão de Atanásio. Um só texto a propósito, onde está presente o vínculo entre a primeira e a nova criação (redenção), mostra polêmica direta com as afirmações de Ário; é o seguinte: ‘Tendo ficado assim provado que o Filho é gerado da substância do Pai, não resta mais incerteza, porém, ao contrário, surge bem claro que este é o Logos e a sabedoria do Pai, no qual e pelo qual o Pai cria todas as cosias; o seu esplendor, em que ilumina todas as coisas e se revela àqueles a quem quer revelar-se; o seu zelo e a sua imagem, em que Ele é visto e conhecido; por isso, Ele e o Pai são uma só coisa: na verdade, quem o vê, vê também o Pai. Este é o Cristo, em que todas as coisas foram redimidas, e que operou a nova criação”5.

A salvação exige que o Verbo tenha, de fato, assumido a natureza humana: “A verdade mostra que  o Logos não faz parte das coisas criadas, mas sim que ele é o criador delas. Ele assumiu o corpo criado e humano até o fim, renovando-o como um demiurgo, para divinizá-lo em si mesmo e para levar todos nós, com base na afinidade com ele, para o reino dos céus. O homem não teria sido deificado se estivesse unido a uma criatura, isto é, se o Filho não fosse Verdadeiro Deus, e o homem não estaria perto do Pai se o Logos natural e verdadeiro do Pai não tivesse se revestido de um  corpo. Assim como não teríamos sido libertados do pecado e da maldição se a carne assumida pelo Logos não fosse por natureza humana (na verdade não teríamos nada em comum com o que é estranho para nós), então o homem não teria sido deificado se a Palavra que se tornou carne não derivasse por natureza do Pai e não fosse sua verdadeira e adequada. Esta união ocorreu para que o que por natureza é o homem se unisse com o que é próprio por natureza da divindade, e sua salvação e divinização se tornariam seguras. Aqueles que negam que o Filho deriva por natureza do Pai e é próprio de sua substância, também negam que ele recebeu verdadeira carne humana de Maria sempre virgem. Nós, homens, não teríamos nos agraciado de nenhum benefício maior se o Logos não tivesse sido verdadeiramente e por natureza o Filho de Deus ou se a carne que ele assumiu não tivesse sido verdadeira”6.

O discurso de Atanásio encontrou-se com a discussão surgida em torno das posições apolinaristas: em particular no que diz respeito à presença, em Cristo, de uma alma verdadeiramente humana. Parece-nos necessário dizer que o esquema de pensamento que habitualmente Atanásio segue é o do Verbo que assume uma carne humana, com uma relação totalmente análoga à relação Logos-mundo, corpo-alma; daí decorre, por conseguinte, que a alma humana de Cristo não possui um espaço real de existência e de ação. Não é que seja negada pura e simplesmente; mas não se reveste de particular importância no desígnio cristológico global.

 

Emerge, aí, um elemento característico do discurso sobre o mistério de Cristo orientado na linha do esquema Logos-sarx: a enfatização da plenitude da divindade do Salvador e do seu envolvimento na história da salvação não se harmoniza facilmente com a afirmação da plenitude de sua humanidade”7. Ou mais precisamente, o contexto naquele momento não exigia tanto focar profundamente em aspectos humanos, uma vez que nesse assunto Ário já estava bem à vontade, justamente por não admitir a divindade do Verbo. Atanásio, por sua vez, dedicou-se profundamente, sem negar a plena encarnação do Verbo, a mostrar que o Jesus Salvador é Deus com o Pai. O que estava em jogo não era a humanidade de Jesus, mas sua divindade e, consequentemente, a salvação por ele operada. 
 

Linhas de raciocínio teológico, segundo Roger Olson 1

 

Santo Atanásio seguiu três linhas de raciocínio teológico no tocante ao relacionamento entre o Filho de Deus e o Pai: linha metafísica, soteriológica e relativa à revelação. Todas as três têm a intenção de apoiar e até mesmo comprovar a unidade ontológica da substância (ομοουσιος) do Pai e do Filho. Em algumas poucas ocasiões, Santo Atanásio incluiu explicitamente o Espírito Santo nessa unidade, mas sua preocupação principal era refutar o arianismo e, assim, concentrou a sua atenção na pessoa de Cristo e na questão da sua condição diante do Pai. Seus amigos capadócios defenderiam a causa do Espírito Santo”. O que de fato acorreu depois da morte de Santo Atanásio, sendo convocado o Concílio de Constantinopla I, em 381, tendo justamente como teólogo S. Basílio, que, após os escritos de Santo Atanásio a Serapião sobre o Espírito Santo, criou o primeiro tratado pneumatológico da Igreja. Santo Atanásio também afrontou os assim chamados “assassinos do Espírito”, isto é, aqueles que não admitiam que o Espírito Santo fosse sequer uma pessoa.

 

Linha metafísica

 

A primeira linha de raciocínio que Santo Atanásio empregou a fim de apoiar a igualde do Filho com o Pai é METAFÍSICA. O âmago do argumento é que se o Pai é Deus, o Filho deve forçosamente também ser Deus, pois de outra forma, o Pai teria passado por uma mudança ao se tornar Pai. Se houve um tempo em que o Filho não era, consequentemente houve um tempo em que o Pai não era Pai. Para ele, o Filho faz parte da definição de Deus como Pai e “o Filho de Deus é eterno, pois a sua natureza é sempre perfeita. […] Não se pode deixar de dizer que, ao sustentarem que houve tempo em que o Filho não existia, despojam, como assaltantes, Deus do seu Verbo e abertamente dizem a respeito de Deus que houve tempo em que não tinha seu Verbo e abertamente dizem a respeito de Deus que houve tempo em que não tinha seu Verbo e Sabedoria e que a Luz em tempos passados não irradiava luz e que a Fonte tinha sido estéril e seca”. Para Santo Atanásio, negar a divindade eterna do Filho de Deus era um ultraje grave contra o Pai: “Esse ataque contra o filho faz a blasfêmia recair contra o Pai”.

 

É forte em Santo Atanásio a crença na imutabilidade de Deus. Substancialmente não pode haver mudança na natureza divina. Se Deus “se tornou” Pai, passou por uma modificação e alteração. Se o Filho de Deus é a imagem expressa do Pai e de sua radiância e luz, sendo que as Escrituras ensinam claramente todas essas coisas, então ele sempre existiu com o Pai, mesmo que tenha sido “gerado” dele: “Mas Deus não é como o homem, conforme a Escritura tem dito; mas é existente e é eterno; por isso, também o seu Verbo é existente e eterno com o Pai como a radiância da luz. […] Portanto, ele também é Deus, por ser a Imagem de Deus, pois “o Verbo era Deus, diz a Escritura”.

 

Esse argumento metafísico da igualdade entre o Filho de Deus e o próprio Deus apresentou um problema para Atanásio quando passou a descrever a natureza da humanidade e divindade de Jesus Cristo em Da encarnação do Verbo. Afinal, se a divindade é rigorosamente imutável, como poderia unir-se, de forma genuína, à existência humana? A solução ariana e semi-ariana foi dizer que o Logos, ou Filho de Deus, não é verdadeiramente divino. Atanásio recorreria a Orígenes e outros teólogos anteriores ao seu tempo em bisca de uma solução. Para ele, o Filho de Deus não mudou ao entrar na existência humana em Jesus Cristo.

 

Na realidade, Atanásio foi muito longe nessa direção. A fim de preservar a verdadeira divindade do Filho com igualdade ao Pai, achava que precisava salvaguardá-lo de qualquer mácula de criatura na encarnação. Frequentemente se referia à encarnação como o emprego pelo Logos de um corpo humano. Em Da encarnação do Verbo, disse que até mesmo durante a vida terrestre de Jesus Cristo, o Logos (ou Filho de Deus) “não estava preso ao seu corpo, mas, sim, ele mesmo fazia uso dele, de modo que não somente estava nele, como realmente estava em todas as coisas e, embora fosse externo ao universo, permanecia somente no seu Pai”.

 

Um problema. Cristológicos heréticos posteriores apelariam à teologia de Atanásio nessa exata questão e a Igreja teria que deixar despercebido o fato de que o venerável bispo de Alexandria parecia desvincular a divindade de Cristo da sua humanidade.

 

Linha soteriológica

 

Para santo Atanásio, toda a razão de ser da teologia era proteger o evangelho e o evangelho diz respeito à salvação. O âmago do raciocínio atanasiano é que se o Filho de Deus não é “verdadeiramente Deus” no mesmo sentido que o Pai, fica impossível a salvação como uma nova criação. Somente Deus pode desfazer o pecado e fazer com que uma criatura compartilhe da natureza divina:

 

Pois se, sendo criatura, ele [o Verbo] se tornou homem, o homem teria permanecido exatamente o que era antes, não ligado a Deus; pois como uma obra teria se ligado ao Criador por uma obra? Ou qual socorro teria vindo de um semelhante para outro, quando tanto um deles como outro precisava de socorro? E como teria o Verbo poder, se fosse uma criatura, para desfazer a sentença de Deus e remir o pecado, em contraste com o que está escrito nos Profetas, que essa é obra de Deus?

 

No fundo desse pensamento e argumento de Atanásio estava a ideia tradicional da salvação como deificação (theosis), embora seu modo de raciocínio não dependesse necessariamente dela. Para ele, da mesma maneira que para Irineu e Orígenes e outros teólogos cristãos primitivos, o problema humano era a morte por causa do pecado e a solução era a deificação por meio da união entre a humanidade e a divindade na encarnação. Foi Atanásio que criou a expressão mais famosa dessa “maravilhosa troca” da teoria da salvação. “Pois ele foi feito homem a fim de que nós fôssemos feitos Deus; e ele se manifestou por meio de um corpo, a fim de que nós recebêssemos a ideia do Pai que não é visto; e ele suportou a insolência dos homens a fim de que nós herdássemos a imortalidade”.

 

Irineu tinha desenvolvido e explorado o conceito da salvação como deificação, a fim de comprovar, contra os gnósticos, a necessidade da humanidade de Cristo. Atanásio explorou a ideia a fim de comprovar a divindade de Cristo, em debate contra os arianos e semi-arianos. Irineu, Atanásio e muitos teólogos cristãos, a partir de então, compartilham de uma ideia comum: a não ser que Jesus Cristo fosse tanto “verdadeiramente Deus” como “verdadeiramente homem”, a salvação simplesmente não poderia ocorrer. Fica claro que Atanásio também examinou profundamente as Escrituras a fim de refutar as interpretações dos arianos e de outros subordinacionistas e de comprovar com textos tirados dos escritos dos próprios apóstolos que eles consideravam que Jesus Cristo era tanto divino como humano. Mas Atanásio também sabia muito bem que as Escrituras podiam significar muitas coisas. O argumento final deve voltar até à realidade do próprio evangelho, que diz respeito à salvação mediante Jesus Cristo e, se Jesus Cristo não fosse tanto Deus como humano, não poderia unir Deus e os homens. A salvação acabaria, então, sendo reduzida a ter uma vida moral virtuosa (moralismo cristão), a obter algum conhecimento secreto (gnosticismo) ou a meramente receber o perdão dos pecados, mas ser deixado na mesma condição caída e corrupta de antes.

 

Conexão entre salvação e encarnação. “Ele [o Logos] teve pena de nossa raça, compaixão de nossa enfermidade e condescendência com a nossa corrupção e, incapaz de conceber que a morte tivesse supremacia – para que a criatura não perecesse e a obra do Pai entre os homens não fosse em vão -, tomou para si um corpo, um corpo igual ao nosso. […] E assim, assumindo dentre os corpos um de mesma natureza, porque todos estávamos sob o jugo da corrupção da morte, entregou-se à morte em favor de todos e ofereceu-se ao Pai, fazendo isso, ademais, por suprema bondade, a fim que, primeiramente, todos sendo considerados mortos nele, a lei que determinava a ruína dos homens pudesse ser desfeita (já que o poder dela tinha se esgotado totalmente no corpo do Senhor e não tinha mais provas contra os homens, seus semelhantes) e a fim de que, em segundo lugar, embora os homens tivessem se voltado para a corrupção, ele lhes resgatasse a incorruptibilidade e os ressuscitasse da morte mediante a apropriação do seu corpo e a graça da Ressurreição, banindo deles a morte, assim como a palha é arrancada do fogo” (On the incarnation of the Word 8.2.4).

 

Atanásio considerava tão essencial que o Salvador fosse divino, além de humano. Se ele não fosse verdadeiramente Deus, sua vida dificilmente poderia banir a morte do nosso corpo mortal. Um problema surge diante disso: como Jesus Cristo podia realizar a obra da salvação se somente seu corpo, ou carne, era verdadeiramente humano e o Logos divino – o Filho de Deus – permanecia imutável e até mesmo fora do corpo durante a vida e morte de Jesus? Era, pois, uma encarnação genuína? O Filho de Deus realmente experimentou o nascimento, o sofrimento e a morte? Santo Atanásio responde, afirmando que ele somente experimentou tais coisas, próprias da criatura, mediante o corpo humano que assumiu. O Filho de Deus não ficou, de modo algum, diminuído, impedido ou sujeito à mudança ou ao sofrimento através da encarnação. O bispo Apolinário tentou resolver esse problema negando a existência da alma humana de Jesus, porque se Jesus tivesse dois “eus” seria um verdadeiro monstro. E também, sendo homem completo, seria um pecador. É curioso que Santo Atanásio não tenha afrontado vivamente tal heresia apolinarista, se bem que a ênfase, naquele momento, era toda contra o arianismo. De qualquer modo, Roger Olson erra quando, de certa forma, quer conduzir o leitor a ver em Atanásio um apolinarista antes de Apolinário (cf. pg 175). Santo Atanásio enfatiza a divindade, é evidente, pois sua luta foi justamente contra aqueles que negavam a realidade divina do Logos, o Filho de Deus. Por causa disso, gastou seu tempo e reflexões. Por outro lado, ele também enfatiza o mistério da encarnação do Verbo, mesmo não citando com estudos apurados a alma, mas afirmando que Jesus era também verdadeiramente homem.

 

Linha da revelação

 

Para Jesus ser a verdadeira revelação de Deus, e não meramente uma imagem ou profeta, conforme tantos já tinham sido, precisava ser Deus. O raciocínio de Atanásio, no caso, é que somente Deus pode realmente revelar Deus. “Se o Filho não é Deus da mesma forma que o Pai é Deus, não pode revelar o Pai de modo verdadeiro e genuíno” (Pettersen, 175). Muitos eventos e pessoas já tinham revelado mensagens a respeito de Deus e da parte dele, mas Jesus Cristo é a auto-revelação de Deus e não meramente outro mensageiro. Até os arianos e semi-arianos concordavam com isso. Atanásio baseou seu argumento nesse denominador comum. Se Jesus Cristo não é Deus na carne humana, Deus não é verdadeiramente revelado nele: “Porque Deus já não deseja, como desejava antigamente, ser conhecido por alguma imagem e sombra da sabedoria que sejam das criaturas, mas fez com que a verdadeira e própria sabedoria se revestisse de carne, tornando-se homem, e sofresse a morte na cruz; para que, a partir de então, mediante a fé nele, todos os que cressem obtivessem a salvação” (Against the Arians, 2.8).

 

Portanto, segundo o argumento de Atanásio, se o Filho de Deus que veio a ser Jesus Cristo não fosse realmente Deus da mesma forma que o Pai é Deus, nós, humanos, não seríamos salvos por ele e pela nossa ligação a ele e ele não nos revelaria verdadeiramente o Pai. Além disso, o Pai sofreria uma mudança ao gerar um filho, mas a mudança é imprópria da natureza divina. Tudo isso serve para fundamentar a acusação de que o arianismo e o semi-arianismo constituem um “outro evangelho” que não é, de modo algum, o cristianismo autêntico. O cristianismo baseia-se em Jesus Cristo como a genuína encarnação de Deus na natureza humana.

 

Trinitariamente, Atanásio afirmava a “monarquia do Pai”. Com isso revelou verdadeira influência de Orígenes. O Filho de Deus é gerado pelo Pai, embora não seja criado no tempo, afirmou Atanásio. Somente o Pai é completamente não-gerado e sem nenhuma origem ou fonte em outro ser. Mas a condição de geração, aplicada ao Filho, é uma geração eterna da parte do Pai, assim como a radiância do sol. Para Atanásio, portanto, o Pai era o princípio da unidade de toda a Trindade. Ele era a fonte e origem de toda a divindade e tanto o Filho como o Espírito Santo fluíam dele e a ele deviam sua existência e condição divinas. O Pai em si não devia nada a ninguém. Atanásio, no entanto, não considerava essa monarquia do Pai um tipo de concessão ao arianismo, nem sequer admitia que ela fosse chamada algum subordinacionismo. Tudo quanto o Pai tinha de atributo, pertencia também ao Filho, por essência. A única diferença é que a essência divina do Pai não seria causada, mas a do Filho e do Espírito seriam eternamente provindas do Pai e, portanto, em certo sentido, causadas pelo Pai mediante um processo de “geração eterna”. A formulação trinitária, como conhecimento concluído, não foi feita por Santo Atanásio. Ele lançou os fundamentos, o alicerce para tal objetivo. Os padres capadócios levaram avante o aprofundamento de tão grande mistério.

 

1Roger Olson. História da Teologia Cristã, pg. 171-176.

A Pneumatologia de Santo Atanásio

Erros contra o Espírito Santo

As notícias que podem ser obtidas não são muitas. Parece que era um grupo limitado, cuja influência não ia além da diocese de Serapião mesmo. Grupo pequeno, mas tenaz e convencido das próprias ideias até a obstinação. Estas pessoas tinham aderido ao arianismo, mas depois separaram-se dele, professando a fé verdadeira no Filho de Deus. Todavia, com uma incoerência que Atanásio não deixou de observar, pois eles continuavam a negar a divindade do Espírito Santo. Provavelmente, por essa razão eles pararam na metade da rejeição do arianismo e para serem assim de fato devolvidos à sua antiga posição, Atanásio os chama várias vezes de tropikoi, ou seja, inconstantes. Aqui, ele manifestamente faz uso de um trocadilho baseado no termo “tropos” (literalmente, modo, maneira), usado por essas mesmas pessoas.

Em geral, explica-se esse apelativo recorrendo a um outro significado de “tropikos”, isto é, metafórico, translado: aquela gente teve uma predileção por uma interpretação “tropológica” ou alegórica da Escritura, graças à qual ele poderia apoiar suas próprias teses ou escapar dos textos induzidos na direção oposta.

Erros

1. O erro específico dos Trópicos é a negação da divindade do Espírito Santo. Para eles, trata-se de um “espírito celeste”, superior somente em grau aos anjos. O Espírito Santo seria uma criatura entre as demais.

2. Esse grupo não concebia o Espírito Santo como procedente da substância de Deus sem admitir que seria também ele “filho”, o que anularia a condição de Unigênito do Verbo, que seria um “irmão” do Espírito Santo. Se, por outro lado, afirmar-se que o Espírito procede do Filho, então, nesse caso, o Pai seria avô do Espírito.

3. Concepção do Espírito como se fosse um anjo superior aos outros

1. Contexto trinitário. Antes, a preocupação maior era referente à relação Pai-Filho contra as teses arianas. Agora, diante de novas teses contrárias ao Espírito Santo, Atanásio procura mostrar a verdade consubstancial, a perfeita identidade, na relação Filho-Espírito. Não sente que seja necessário usar o mesmo termo “ομοουσιος” para explicar a divindade do Espírito Santo. Os conceitos que já existem são, portanto, suficientes, como “propriedade consubstancial”: o Filho não é o Pai, o Espírito não é o Filho. São três Pessoas realmente distintas, mas idênticas na substância e inseparáveis dela. O que a Escritura diz do Pai, também diz do Filho, com exceção do nome Pai.

O Espírito como criatura: “Que tipo de doutrina sobre Deus é essa que mistura Criador e criatura? Portanto não é mais Trindade, mas “binidade” mais algo criado”. Segue Atanásio: “não pensando retamente acerca do Espírito Santo, não pensam retamente nem mesmo acerca do Filho e, por último, nem mesmo têm um fé legítima acerca do Pai.

O Espírito como anjo superior: Rebaixando os Espírito à categoria de anjo, introduzem os anjos na Trindade. Se, segundo eles, depois do Pai vem o Filho, em seguida, depois do Filho vem os anjos. Nesse sentido, os anjos pertencem à Trindade e não são mais servos; também não seriam santificados, mas santificadores dos outros. A verdade é que “o Espírito Santo não é uma das criaturas nem um anjo, mas é sobre a criação, unido à divindade do Pai. Na verdade, Deus mesmo, por meio do Verbo, no Espírito, guiava o povo. Deus mesmo, mediante o Filho, no Espírito Santo, está no meio do seu povo. 

O Espírito como irmão: Não é possível dizer que há um pai além do Pai, um irmão além do Filho, um outro Deus além antes do Pai. Somente o Verbo é Unigênito. A Natureza divina não é dividida em partes. O Pai não gera o Filho cedendo parte de Si, de forma que o Filho se torne, por sua vez, pai de um outro. O Filho não é parte do Pai. Desde sempre o Pai é Pai, e o Filho é Filho. O Pai nunca pode ser filho, nem jamais o Filho ser pai. O Pai nunca cessará de ser somente Pai e, da mesma forma, o Filho nunca cessará de ser somente Filho. 

O Pai é chamado fonte e luz. O Filho, com relação à fonte, é chamado rio. O Pai, portanto, é luz, e o Filho é o seu esplendor. Ora, é possível ver no Filho também o Espírito, no qual somos iluminados. Analogamente, se o Pai é a fonte e o Filho é chamado rio, nós “bebemos o Espírito, como está escrito: “Nós todos bebemos de um só Espírito”. Mas vice-versa, bebendo do Espírito, bebemos Cristo: Bebemos da rocha espiritual que os seguiu, e a rocha era Cristo.

2. Atributos do Espírito Santo. Os atributos do Espírito Santo são próprios da divindade e não da realidade criatural: Ele é ÚNICO, IMUTÁVEL, ONIPRESENTE, ETERNO, CRIADOR, SANTIFICADOR, VIVIFICANTE.

3. Relação Filho-Espírito. A Sagrada Escritura chama de Espírito do Filho (cf. Gl 4,6), Espírito próprio do Verbo segundo a substância. Ele é unido ao Filho como o Filho ao Pai, de sorte que é inseparável do Verbo, não está fora Dele e nem lhe é estranho. O Espírito tira do Filho, recebe tudo Dele, de modo que tudo aquilo que o Espírito tem, é do Filho. Ele é Imagem do Filho, brilha Dele e participa de Sua imutabilidade. Quem tem o Espírito, tem o Filho, porque Ele está no Filho, assim como o Filho está Nele. O Filho o envia, dá-o, e Ele glorifica o Filho. O Espírito é proclamado Deus com o Verbo, de modo que quem blasfema o Espírito, blasfema também o Filho.

4. Relação Pai-Espírito. O Espírito tem com o Filho a mesma relação que Este tem com o Pai. Segue-se que também a relação Pai-Espírito é idêntica àquela Filho-Espírito. O Espírito é chamado Espírito de Deus, Espírito do Pai; é de Deus, do Pai, isto é, procede Dele e é Nele, pois é unido à divindade do Pai. É dito que o Espírito procede do Pai, é enviado e dado pelo Verbo, o qual (precisamente), como nós professamos, é do Pai. Tudo aquilo que tem o Filho é do Pai, assim, o Espírito, que é do Filho, é também do Pai. Da mesma forma, o Espírito está em Deus Pai, porque está no Verbo, o qual está no Pai, e se é verdade que o Pai manda o Espírito, isso acontece no nome do Filho, e precisamente quando este soprou sobre os discípulos.

5. Espírito Santo e Trindade. A distinção entre criado e incriado é clara e deve ser removida de qualquer equívoco. Se, como ensina a Escritura, o Espírito Santo não é criatura, então precisa ser consequente, uma vez que a divindade não pode ser composta de criado e incriado.

Na Trindade, o Espírito não pode ser de natureza ou substância diversa; é o Espírito da Trindade, uma coisa só e própria com a divindade que é na Trindade, unido ao Filho e ao Pai e inseparável desses. Duas coisas são combatidas aqui: a afirmação de que o Espírito seria uma criatura e, portanto, separado das demais Pessoas divinas. Ele é Deus com o Pai e o Filho e Nele, de fato, a Trindade é perfeita. 

Exatamente por esta identidade substancial, em “um” é significada toda a Trindade. Uma, porém, é a graça, uma a operação, a santificação que, originária do Pai, mediante o Filho, se cumpre no Espírito Santo. Esta ordem de enunciação não pode ser confundida, mas, sim, respeitada. 

Mesmo na identidade de substância, as relações ao interno da Trindade não são trocadas: o Pai é a origem do qual derivam o Filho e o Espírito, não em força de um processo de vir-a-ser, de um tornar-se, mas como propriedade substancial, perfeita e inseparável. 

O Filho recebe somente do Pai toda a substância da divindade; o Espírito a recebe do Pai, mas através do Filho, que não participa do Espírito, sendo o doador; não está unido ao Pai através do Espírito, mas por geração. O Espírito, por outro lado, é próprio do Filho. 

Totalmente recíproca, em vez disso, é a imanência: o Pai é todo no Filho, que é sua imagem; e o Filho é todo no Pai, como seu próprio; da mesma forma, o Filho é todo no Espírito, que é sua imagem; e o Espírito é todo no Filho como seu próprio. 

Santo Atanásio não tratou das “relações” como sendo pessoas. Ao falar de relações, deu o grande passo na compreensão daquilo que é próprio de cada Pessoa e do comum substancial. 


6. Heresia contra o Espírito Santo. Orígine e Teognosto procuraram uma solução para Mt 12,32: “Todo o que tiver falado contra o Filho do Homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro”. Eles afirmavam o seguinte: “… quem peca antes do batismo, pode encontrar, por meio deste sacramento, uma possibilidade de perdão; para que, ao contrário, peca depois do batismo, não haverá mais essa possibilidade”. E, uma vez que é próprio do batismo conferir o dom do Espírito Santo, o pecado de um batizado é chamado precisamente “pecado contra o Espírito Santo”. Também um não batizado peca; mas, enquanto homem dotado de razão (loghikos) e não ainda santificado pelo Espírito, peca somente contra o Logos. Daí a diferença entre as duas blasfêmias, aquela contra o Espírito e aquela contra o Filho do Homem”. 

Atanásio, porém, não se mostra satisfeito com essa solução; em primeiro lugar, porque, diz ele, o contexto o proíbe: na verdade, o Senhor se dirige aos fariseus, não aos batizados. Além disso porque  excluir aos batizados a possibilidade de receber novamente o perdão é contrariado pela prática da Igreja que, por exemplo, rejeitou as pressões rigoristas de um Novaciano 1. 

Todavia, também para Atanásio não era fácil dar uma interpretação satisfatória a esse enigmático dito de Jesus. Duas, sobretudo, eram as dificuldades a serem superadas: 1ª – manter a distinção entre “Filho do Homem” e Espírito Santo; 2ª – conservar também a diversidade de grau entre as duas blasfêmias, uma possível de perdão, outra irremissível. 

A solução proposta por Atanásio consiste em aplicar a esse caso o seu teorema trinitário-cristológico; e aqui reside a verdadeira novidade da abordagem, o aparecimento de um novo modo de fazer teologia. 

Como primeiro passo, ele afirma que na Trindade não há quem seja maior ou menor, por motivo da total imanência recíproca entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Portanto, se o Pai está em todas as coisas, também o Filho estará em todas elas, e o Espírito não pode estar ausente. Por consequência, quem peca ou blasfema contra o Filho, peca e blasfema também contra o Pai e o Espírito Santo, isto é, contra toda a Trindade. 

O segundo passo está, em vez disso, na afirmação de que “maior e menor” se dá na encarnação, naquele evento que Deus quis em nosso favor. Em Cristo, Verbo encarnado, subsiste, portanto, conjuntamente um duplo nível: um inferior, humano, reconhecível pelos próprios sinais da fraqueza humana; e outro superior, divino, reconhecível naquelas obras que são próprias de Deus. 

A partir desses dois passos, surge para Atanásio a solução do problema acima mencionado: a maior ou menor gravidade da blasfêmia não deve ser encaminhado para o Espírito Santo e o Filho, mas apenas para Cristo considerado em sua divindade e em sua humanidade. Além disso, a divindade de Cristo pode ser indicada com o termo “Espírito”, em base a uma daquelas “braquilogias” que são legitimadas pela perfeita identidade substancial da Trindade: de fato, o Espírito contra o qual é dita a blasfêmia, é o mesmo Espírito no qual o Verbo realiza cada coisa e que é, portanto, Dele. 

Finalmente, a partir dessa análise, pode-se entender que a interpretação “cristológica” dada por Atanásio à “blasfêmia contra o Espírito Santo” não postula, absolutamente, um outro contexto ou um outro momento que não seja aquele das Cartas a Serapião. Na verdade, sem a concepção trinitária expressa nessas cartas, a solução dada por Atanásio a Mt 12,32 resultaria de difícil compreensão. Em vez disso, torna-se claro se é considerado como uma aplicação concreta dos princípios estabelecidos acima.

7. Argumento soteriológico. Atanásio fala da real participação do homem na vida divina, graças ao dom do Espírito Santo. O homem se torna divinizado por ação do Espírito Santo. Dizer que o Espírito Santo é um ser ou uma energia intermediária, como se fosse inconcebível um contato direto do Deus transcendente com a criatura, na realidade privaria essa presença de todo significado salvífico. Se, na verdade, o Espírito fosse, também ele, uma criatura, nós não seríamos salvos, porque não seríamos divinizados: “Por meio do Espírito – escreve Atanásio – nós todos nos tornamo-nos participantes de Deus (…). Se o Espírito Santo fosse uma criatura, estar nele não nos conduziria a nenhuma participação em Deus; seriamos simplesmente unidos a uma criatura e estranhos à natureza divina (…). Se, portanto, nos tornamos participantes da natureza divina através da participação no Espírito, é loucura afirmar que o Espírito pertence à natureza criada e não àquela de Deus. É por isso que diviniza aqueles nos quais se faz presente. Se diviniza, não pode haver dúvida de que a sua natureza é a de Deus.

Esta obra de divinização comporta múltiplos aspectos: o Espírito, de fato, santifica, vivifica, ilumina, confere o perfume e a forma de Cristo, cria e renova, glorifica a criatura e lhe concede a filiação divina. 

Não que essas sejam operações exclusivas do Espírito; é a Palavra, na verdade, quem as realiza nele, porque única é a operação, a graça, a santificação que, a partir do Pai, através do Filho, é realizada no Espírito.

Em última análise, quem participa do Espírito, participa também do Filho e do Pai, pois apenas participando dele, temos o amor do Pai, a graça do Filho e comunhão do mesmo Espírito. 

O argumento soteriológico da divinização do homem tem, portanto, parte imprescindível na teologia de Atanásio. A sua especulação sobre a Trindade não é abstrata, mas radicada na auto-revelação salvífica de Deus mesmo. O propósito desta revelação não é simplesmente colocar o homem diante de Deus em uma atitude de justiça moral e adoração, mas de fazê-lo entrar na mesma vida trinitária. 

8. Teologia apofática. Atanásio muitas vezes prefere formular seu pensamento sobre Deus de forma negativa e não positiva: Basta saber que o Espírito não é uma criatura, nem se conta entre as obras (da criação). Na verdade, a Trindade não é uma mistura de diferentes naturezas, mas é inseparável e idêntica a si mesma.

Na verdade, aquilo que transcende a realidade criada, transcende também a palavra humana. Deus não é como o homem. Assim, o conceito de “geração”, aplicado a Deus, não pode ser entendido do mesmo modo com que é aplicado ao homem, já que Deus é simples, não composto de partes. 

Portanto, é tolice deixar-se condicionar por um silogismo e não admitir a divindade do Espírito Santo apenas porque não se é capaz de compreender como o Espírito possa derivar do Pai sem ser também ele filho. Deus, sobretudo na sua revelação trinitária, permanece um mistério a ser adorado na fé: “Para aqueles que acreditam, isso é o suficiente. O conhecimento humano chega até aqui; neste ponto, os querubins fazem véu com suas asas. 

Obs.: Atanásio não avança na diferenciação entre “geração” e “procedência”. 

É claro que a razão não deve ser excluída; desde que seja baseada na fé, acompanhada de piedade e reverência. Este é um tipo de conhecimento ao qual se tem acesso apenas com a condição de banir a curiosidade, a irreverência própria de um racionalismo estreito e mesquinho. Nela recai aqueles que se afastam das expressões contidas nas Escrituras sagradas e da fé transmitida na Igreja.

O caráter inefável da Trindade deve, portanto, ser sempre salvaguardado. Se si dá uma linguagem trinitária que parece subtrair algo dessa absolutilidade, isso só é possível dentro dos limites estabelecidos pela própria revelação. Não é a mente humana que a cria, nem pode modificá-la.


9. Atanásio e a Bíblia. Quanto ao Antigo Testamento, Atanásio se refere constantemente à versão grega dos Setenta (LXX). Mesmo sabendo dos originais hebraicos, não os procura por dois motivos: porque acreditava na inspiração da versão grega e pelo fato de não saber hebraico. Atanásio acredita que todas as Escrituras por trás da letra escondem um espírito, ou seja, um significado mais profundo, que também é o mais apropriado, o mais exato. A Sagrada Escritura resume-se na revelação da dupla condição da Palavra: a eterna, na qual ele é igual ao Pai, e aquela no tempo, com a qual se tornou homem, assumindo todas as limitações humanas. Esta manifestação é o fim (skopos) a que todas as Escrituras visam; é a característica distinta do cristianismo e da fé, a autêntica (revelação) transmitida pelos Apóstolos. Toda a Escritura mostra sua admirável coerência interna; o Atanásio mostra acumulando as combinações, desenhando-as tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

Atanásio não tem dificuldade de ler o Antigo Testamento não somente em sentido cristológico, mas também trinitário, uma vez que os dois aspectos são inseparáveis. Toda a Escritura é assim entendida sob uma única leitura estritamente eclesial, cujo princípio hermenêutico é dado pela fé cristológica e trinitária. Com razão, portanto, H.J. Sieben falou da exegese dogmática de Atanásio: na verdade, ele sugere que, pelo seu conteúdo, a finalidade das Escrituras é idêntico ao cânone, ou regula fidei (regra da fé).
 

Veneração

São Gregório de Nazianzo (330—390), ele também um Doutor da Igreja, afirmou em sua "Oração 21":"Quando elogio Atanásio, a própria virtude é meu tema: eu nomeio cada virtude com virtude com a mesma frequência com que nomeio a ele, que possuía todas as virtudes. Ele era o verdadeiro pilar da Igreja. Sua vida e conduta eram a regra dos bispos e sua doutrina, a regra da fé ortodoxa".

Relíquia de Santo Atanásio

Em 373 d.C.. Atanásio faleceu aos 77 anos de idade e foi sepultado em Alexandria mesmo, mas seus restos mortais foram, depois, transferidos para a Igreja de São Zacarias, em Veneza, Itália. Durante a visita do assim denominado papa Shenouda III, patriarca de Alexandria, a Roma entre 4 e 10 de maio de 1973, o Papa Paulo VI presenteou o patriarca copta com uma relíquia de Atanásio (que ele trouxe de volta para o Egito em 15 de Maio) a qual se encontra atualmente preservada na nova Catedral Ortodoxa Copta de São Marcos, no Cairo. Porém, a maior parte dos restos de Santo Atanásio permanece em Veneza.
 

BIBLIOGRAFIA

 

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COLA, Silvano. Operários da primeira hora, perfis dos Padres da Igreja. Editora Cidade Nova.  São Paulo 1984.

 

DICIONÁRIO Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Editoras Vozes e Paulus. Rio de Janeiro-RJ 2002. 

 

FORBES, F. A. Santo Atanásio contra o mundo. Editora Loreto. Rio de Janeiro-RJ.

 

LADARIA, Luis F., O Deus Vivo e Verdadeiro. Ed. Loyola. São Paulo 2005.

MANZANARES, César Vidal. Dicionário de Patrística (séc. I-VI). Editora Santuário.                    Aparecida-  SP 1995.

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PEREIRA, Isidoro. S.J., Dicionário grego – português e português-grego7. Livraria Apostolado da Imprensa. Braga        1990.

 

SERENTHÀ, Mário. Jesus Cristo ontem, hoje e sempre. Ed. Salesiana Dom Bosco. São Paulo, 1986. 

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