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Foto do escritorJosé Erinaldo Ferreira de Lima

Mt 5,1-12a. Solenidade de todos os santos no 31º Domingo do Tempo Comum, 03 de novembro de 2024.

Evangelho


Naquele tempo, 1 vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4 Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5 Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. 11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. 12 Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus".

— Palavra da Salvação.


Reflexão


Celebramos, hoje, a solenidade de todos os santos. Quando surgiu essa celebração? Nos primeiros séculos da era cristã, os mártires se tornaram imediante pessoas veneráveis pelo exemplo de total entrega a Jesus Cristo. Os Apóstolos e os demais santos mártires foram assimilados carinhosamente pelo povo de Deus no mais profundo de suas expressões de fé. Eles se tornaram testemunhas oficiais da fé. "Depois das grandes perseguições do Império Romano, homens e mulheres, que viveram a vida cristã, de modo belo e heroico, começaram a tornar-se, paulatinamente, exemplos de veneração: o primeiro santo, não mártir, foi São Martinho de Tours.


Em fins do ano mil, iniciou-se um processo de canonização, até se chegar à comprovação dos milagres.


A Solenidade de Todos os Santos começou no Oriente, no século IV. Depois, difundiu-se em datas diferentes. Em Roma, dia 13 de maio; na Inglaterra e Irlanda, a partir do século VIII, dia 1º de novembro, uma data que também foi adotada em Roma, a partir do século IX.


Esta Solenidade era celebrada no fim do Ano litúrgico, quando a Igreja mantinha seu olhar fixo ao término da vida terrena, pensando naqueles que haviam atravessado as portas do Céu" (https://www.vaticannews.va/pt/feriados-liturgicos/solenidade-de-todos-os-santos-.html).


Quanto ao evangelho, detalhes prévios do texto: Jesus vê as multidões, os discípulos se aproximam DELE, e Ele começa a ensiná-los. Jesus vê as multidões, vê o povo de Deus, vê a humanidade necessitada de uma total transformação, de uma vida nova, de um novo rumo, de uma nova lógica, de um novo horizonte, do verdadeiro encontro com Deus. Na planície do mundo não é possível elevar o homem, pois indica a lógica do poder, da dominação, dos que mandam e pensam somente em si mesmos; daqueles que agem somente em nome da comida, bebida, saúde, sucesso, fama e prazer a qualquer custo. A isso chamam felicidade. É necessário subir a montanha de uma nova forma de vida de acordo com a vontade de Deus, uma vida aberta à ação do Espírito de Deus, guiada pelo poder do amor. A montanha é essa realidade da Palavra de Deus, da experiência com o Salvador; é o “monte Sinai” do Novo Testamento, lugar do projeto de Jesus Cristo para Seus discípulos, a constituição do Novo Povo de Deus. Ali se encontram, próximos, Seus discípulos, exatamente porque o lugar do discípulo é ao lado e voltado para seu Mestre, pois serão Seus continuadores na história.

 

As Bem-Aventuranças, trazidas por Mateus e Lucas, são “proclamações solenes universais”, são felicitações e congratulações aos que se colocarem na Estrada da salvação, são um convite à Sabedoria divina, à prática da Lei de Deus, à uma verdadeira vida de humildade, simplicidade, obediência e confiança no poder de Deus. Além disso, determinam a condição daqueles que desejam viver segundo Jesus Cristo, pois serão chamados à uma vida toda voltada para Deus e para o próximo, transparecendo uma existência no serviço por amor. As Bem-aventuranças são exatamente aquilo que foi vivido pelo próprio Jesus; não são constatações do meio social simplesmente, mas realidade mesma de Jesus no meio de nós. As Bem-Aventuranças também são determinantes para um futuro de libertação. É por liberdade que todos gritam e lutam. Não se trata de qualquer liberdade, mas daquela dos filhos de Deus, daquela que vem da superação de si mesmo, da eliminação do pecado e da morte. Jesus é o portador da verdadeira libertação. Sua presença é sinal do Reino de Deus presente entre os homens, é intervenção de Deus a favor dos pobres, famintos e sofredores de modo geral. Em Lucas, há um olhar mais voltado para a realidade concreta dessas pessoas; em Mateus, há, além disso, uma preocupação espiritual dessa situação. Em suma, Jesus se interessa em ir a “águas mais profundas” das misérias humanas e espera uma resposta interior de todos que forem tocados por Ele. Aquele ou aquela que fizerem das Bem-Aventuranças seu projeto de vida não se tornarão mais fracos, como afirmava Nietzsche, pelo contrário, encontrarão a força legítima do combate e da vitória, porque não se trata de qualquer combate, mas da luta e da vitória sobre si mesmo.

 

Assim vejamos cada Bem-Aventurança:

 

a) “Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o reino dos céus”. Aqueles que, por livre vontade, despojam-se de tudo o que possuem; aqueles que não acumulam nada para si; aqueles que sabem empregar o que possuem em benefícios dos demais; os que estão de mãos vazias diante de Deus e inclinados só para Ele; que não são autossuficientes, orgulhosos, mas que fazem de suas vidas um verdadeiro dom. São eles os “anawim” da Sagrada Escritura. Um ponto importante: “de coração”, significando que nem todos os pobres são bem-aventurados, pois a expressão “de coração” exprime, por exemplo a diferença entre possuir para si e possuir para servir: se para si, é rico; se está a serviço, é pobre. Jesus não diz que todos devem ser indigentes, mas que todos não retenham para si.

 

b) “Bem-aventurados os que choram (aflitos), porque serão consolados”. Todos aqueles que são afligidos pelas injustiças da sociedade e de toda forma de dominação interesseira; aqueles que são forçados a viver com a canga no pescoço, ludibriados em seus direitos, manipulados para interesses vis, massa de manobra nas mãos de ditadores e tiranos de modo geral. A eles, Deus concederá a consolação no final, a justificação de suas vidas, uma vida jubilosa.

 

c) “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra”. São mansos todos aqueles que, apesar de sofrerem os desmandos dos dominantes ou mesmo de qualquer inimigo, não recorrem a violência, evitam o ódio e não querem a vingança, mas, pelo contrário, tolerando o que lhes faz sofrer, optam por uma vida de serviço, desarmados e decididos, à semelhança da ação de Jesus, colocando-se à disposição do bem maior até mesmo dos seus inimigos. Então, manso é todo aquele que duplamente se fortaleceu: pela luta interior de superação dos conflitos internos de desejos de vingança e pelo surgimento de uma decisão livre de contribuição na salvação do outro. Esses possuirão o Reino de Deus. Convém assinalar que Jesus é o “manso” (Mt 11,29) e, por isso mesmo, Servo.

 

d) “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque deles é o reino dos céus”. A justiça de Deus é a realização do Seu plano salvífico, portanto, ter fome e sede de justiça significa empenhar-se para salvar o irmão, a sociedade, o mundo inteiro; significa colocar em prática a vontade de Deus.

 

e) “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcaçarão misericórdia”. Misericordioso é todo aquele que se empenha para ajudar os necessitados, que não teme “gastar” sua vida pelo bem do outro, que procura ser uma presença amiga onde existe a dor e tenta aliviar tal sofrimento; que tudo faz por causa do amor, da verdade e da verdadeira vida. São todos aqueles que praticam as obras de misericórdia (cf. Lc 10,37; Gn 3,21; 18,1; 25,11; Dt 34,6).

 

f) “Bem-aventurados os puros de coração, proque verão a Deus”. Aqueles que procuram viver segundo a vontade de Deus, que não colocam nada nem ninguém no lugar do Senhor, que não são dúbios na fé, que não pregam o que não desejam viver; são os que amam, mesmo carregando um madeiro; os que não são idólatras nem adúlteros no seu coração; são aqueles que não conduzem suas almas para o mal e procuram viver sinceramente a verdade.

 

g) “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”. São todos aqueles que não cruzam os braços diante da violência do mundo, na própria sociedade, na sua comunidade ou até mesmo na sua família. Todos aqueles que se esforçam o máximo possível para evitar os conflitos, as guerras, a violência e toda sorte de desgraça para a vida humana. São aqueles que promovem, a todo custo, a vida humana segundo a vontade de Deus; que querem o bem para todos.

 

h) “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Em Lucas há outros verbos, como odiar, rejeitar, insultar e difamar para expressar essa Bem-Aventurança, que coloca o discípulo na total obediência a Jesus, o Filho do Homem. São eles aqueles que têm conhecimento da tribulação advinda por causa da fidelidade a Jesus Cristo, ao amor, à verdade e à vida. Entendem que lutar sempre para o bem do outro não é somente um desafio interno, mas algo que incomoda a quem ganha às custas dos “inocentes”. São perseguidos, porque são verdadeiros, estão no caminho certo, desmascarando os que se escondem nas peles de ovelhas para destruir a vida dos demais. Sabem do que aconteceu com os profetas que vieram antes deles, sabem do que aconteceu a Jesus, são conscientes da cruz que devem carregar pelo bem que fazem. Se no Antigo Testamento só eram considerados bem-aventurados se Deus interviesse, no Novo, o fato mesmo da perseguição já demonstra que são bem-aventurados, pois o motivo do sofrimento já os identifica com Cristo.

 

Em suma, quem realmente busca o Senhor? Sofonias responde, afirmando: “Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; achareis talvez um refúgio no dia da cólera do Senhor”. Esse texto inspirou também Mateus na construção do conjunto das Bem-Aventuranças. Os humildes, que buscam o Senhor, são aqueles que formam o RESTO DE ISRAEL, aqueles que largaram tudo para viver exclusivamente da vontade de Deus, homens e mulheres santificados justamente por não temerem as potências do mundo nem o martírio, passaram pela “grande tribulação” (Ap 7,14). No contexto do Novo Testamento, Jesus olhou justamente para esse “resto”, que, por meio do próprio Jesus, se tornou filho de Deus. Diz são João: “Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus!” (1Jo 3,1-3). Como filhos, todos são chamados a ser configurados a Cristo. O mundo observa os mais elevados financeira e intelectualmente, aqueles que têm um grau elevado de cultura. Jesus fez o inverso, escolheu o que o mundo desprezava, o resto, os incapacitados, aqueles sem “sabedoria humana” (1Cor 1,26), aqueles considerados pelo mundo como estúpidos (para confundir os sábios), fracos (para confundir os fortes), sem importância, desprezados e sem serventia (para mostrar a inutilidade do que é considerado importante), para mostrar Sua força, que se manifesta no amor transformador e libertador.

 

Nós fazemos parte dessas escolhas de Jesus. Não somos os melhores, os mais elevados, os expoentes do mundo, somos o que Jesus quis que fôssemos e, por isso, devemos caminhar para alcançar o que Deus tem preparado para nós. Assim agiram homens e mulheres, pessoas simples, mas totalmente voltadas para Deus e que hoje recebem as honras do altar, porque lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7,14b). Certamente nem todos foram mártires, mas sem dúvida alguma todos eles enfrentaram guerras internas gigantescas para permanecerem fiéis ao Amado Jesus Cristo. Tiveram que enfrentar as ideologias do mundo, os poderes tirânicos e as ilusões de um mundo sem Deus. Eles levaram a sério o chamado de Deus e a amizade com Ele, por isso se tornaram pessoas imitáveis (cf. 1Cor 11,1), dignas de honra e respeito. Em si, eles manifestam o poder salvífico de Deus, felizes por serem filhos de Deus através do Filho Jesus Cristo e por terem agido de modo semelhante a Jesus Servo e, ainda, procurado a pureza do Mestre (cf. 1Jo 3,1-3).


Um forte e carinhoso abraço.

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