12º dia do nosso retiro quaresmal.
1. Depois de falar sobre a Sua Paixão, Jesus Cristo sentiu a crise estabelecida na vida dos Seus discípulos. Não passava pela mente deles a ideia de um messias fraco, sofredor e que fosse morto pelas mãos humanas. Eles sonhavam o mesmo sonho dos demais judeus que esperavam a chegada do messias e sua revelação gloriosa. Então, escutar Jesus dizendo que iria sofrer e morrer pelas mãos dos escribas e fariseus, sacerdotes e mestres da lei indicava a eliminação de um sonho, uma frustração tremenda, diria até um certo desespero na vida deles, que não entendiam o modo de pensar de Jesus, que agia como Servo, a fim de realizar justamente o sonho de Israel, mas do jeito de Deus e não segundo a lógica do homem. No meio dessa crise, Jesus chama Pedro, Tiago e João, para mostrar-lhes o que eles jamais conseguiriam enxergar por si somente.
2. Jesus vai com eles ao monte, sinal de Moisés no Sinai. Ali se transfigura, mais outro sinal que O liga à figura de Moisés ao descer da montanha. Jesus manifesta o Seu interior que é Luz. Como Novo Moisés, revela, desde já, a vitória sobre a morte, sobre o sofrimento. Em outras palavras, o sofrimento imposto pelo mundo e pelos líderes de Israel não será capaz de impedir a manifestação gloriosa de Jesus. Na Sua transfiguração se encontra, antecipadamente, o que LHE acontecerá depois da cruz. O fato é que Jesus está permitindo a esses discípulos a graça do conhecimento da verdade sobre ELE. Realmente, Ele é o verdadeiro Messias, que, sem se perder, assume a humanidade, dá Sua vida por ela e por todos, Ressuscita. Mesmo sendo tratado como louco pelos gregos e escandaloso pelos judeus (1Cor 1,23), não deixa de ser fiel a vontade do Pai em tudo, até o fim, mostrando em si a desumana lógica de um mundo decadente.
3. As figuras de Moisés e Elias testemunham o Messias esperado, mas não somente isso, mas além disso, que Ele é a realização da Lei e da profecia, o cumprimento das Sagradas Escrituras, a Chave de leitura e interpretação da Lei, da Profecia e da ação de Deus na natureza e na história. A compreensão da vontade de Deus e de sua vontade será, definitivamente, por meio de Jesus Cristo, o Seu Filho Amado (Is 42,1), indicação de Sua missão como Servo. Ele é tudo o que o Pai deseja dizer ao mundo. Por isso, não se deve escutar outra voz, pois o Servo, o Filho amado é o que fala e ensina a verdade do Pai. A voz do Pai é clara: "Escutai-O", uma forma de também dizer que Ele é o Novo Moisés (cf. Dt 18,15).
4. Diante disso, certamente Pedro e os dois outros, gostariam de permanecer alí, no conforto de uma revelação, mesmo na ignorância de tão profundo mistério. Apesar do medo, sinal de uma manifestação divina, Pedro e os demais receberam uma profunda formação sobre o valor adquirido pelo sofrimento e a conclusão de uma vida feita dom de salvação. A fidelidade, mesmo na dor, conduz à glorificação. Abandonar a cruz significa desprezar o futuro preparado por Deus, no que se refere à glorificação de quem se faz um dom. Então, erguei-vos, pois tem início uma etapa de desafios, desconfortos e perseguições, e, no silêncio proposto por Jesus, caminhar até a realização do que foi revelado.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo