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Apologética

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O que é?

Etimologicamente, a palavra apologética (do grego apologèticos, apologia) significa justificação, defesa. Apologética é, pois, a justificação e defesa da fé católica.


A apologética não só apresenta os títulos que tornam a Igreja Católica credora da nossa adesão, mas também enfrenta os adversários, respondendo aos seus ataques. E como os ataques variam com as épocas segue-se que deve evolucionar e renovar-se incessantemente, pondo de parte as objeções antiquadas e apresentando-se no campo escolhido pelos adversários, para os combates da hora presente.


(BOULENGER, Manual de Apologética)

Da importância

Um dos deveres do cristão, sem dúvida, é espalhar os ensinamentos que Cristo nos deixou. Hoje em dia, porém, parece que as lições do Mestre e de Sua Igreja se perdem em meio a tantas doutrinas errôneas. Tal realidade, mais do que nunca, deve ser um alerta para o cristão se aprofundar na sua fé… e claro, divulgá-la.

“Jesus Cristo é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade. Não vos deixeis desviar pela diversidade de doutrinas estranhas. É muito melhor fortificar a alma pela graça do que por alimentos que nenhum proveito trazem aos que a eles se entregam.”( Hb 13,8-9).

“O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas, de hipócritas e impostores que, marcados na própria consciência com o ferrete da infâmia.”
(1 Tim 4, 1-5)

“Meus irmãos, se alguém fizer voltar ao bom caminho algum de vós que se afastou para longe da verdade, saiba: aquele que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará desaparecer uma multidão de pecados. “( Tg 5, 19-20 )

 

 

A QUESTÃO DAS IMAGENS

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Diferença entre Imagem e Ídolo 

 

Imagem não é o mesmo que ídolo. Chama-se ídolo: uma imagem falsa, um simulacro a que se atribui vida própria, conforme explica o profeta Habacuc (2, 18). Eis o que claramente indica Habacuc, dizendo: "Ai daquele que diz ao pau: Acorda, e a pedra muda: Desperta" (Hc 2, 19) 

 

A Bíblia reza no livro de Josué: "Josué prostrou-se com o rosto em terra diante da arca do Senhor, e assim permaneceu até à tarde, imitando-o todos anciãos de Israel" (Jos 7, 6). Terão sido idólatras Josué e os anciãos de Israel? Estariam eles adorando a Arca, uma vez que se prostraram diante dela?

 

Foi Deus ainda que ordenou a Moisés levantar uma "serpente" de metal (Nm 21, 8) e todos os que olhassem para ela seriam curados. Ora, que "olhar" é esse que confere uma cura milagrosa diante de uma estátua de metal? Temos as provas de como esse culto era já uma pré-figura do culto à Deus nas palavras de S. João, que diz que tal "serpente" era o símbolo do Cristo crucificado: "Bem como ergueu Moisés a serpente no deserto, assim cumpre que seja levantado o Filho do Homem" (Jo 3, 14). Por acaso caíram também Moisés e S. João, e até o Espírito Santo (autor da Sagrada Escritura) em crime de idolatria? É claro que não. 

 

A idolatria consistiria em achar que a divindade está em uma estátua, por exemplo. Ou seja, teríamos que colocar alimentos para as imagens, como faziam os romanos, os egípcios e os demais povos idólatras. Teríamos que achar que Deus e o santo são a mesma pessoa. No fundo, seria dizer que S. Benedito não é e nem foi S. Benedito, mas foi Deus, etc. 

 

Nunca se ouviu algum católico defendendo que o Santo era Deus! Mesmo porque isso seria cair em um panteísmo (defendido por Calvino e Lutero em algumas de suas obras). Para se dizer que os católicos adoram os santos, eles teriam que dizer que S. Benedito, por exemplo, não é S. Benedito, mas Deus. E, ainda mais difícil, os católicos teriam que afirmar que S. Benedito é a estátua, uma espécie de amuleto mágico... Nenhum católico acredita que o santo seja Deus ou que ele seja a madeira da estátua (como uma divindade). Logo, não há idolatria possível, visto que esta consiste em adorar um falso deus. Alguns protestantes argumentam que só é possível fazer imagens quando Deus expressamente permite. Pergunta-se: onde está essa norma na Bíblia? É uma contradição dos protestantes, pois tudo para eles está na Bíblia, todavia, para condenar os católicos, não é necessária a Bíblia... 

 

Deus proíbe a idolatria e não o uso de imagens 

 

O mesmo Deus, no mesmo livro do Êxodo em que proíbe que sejam feitas imagens, manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Ex 25, 18-20). Manda-lhe, também, fazer uma serpente de bronze e colocá-la por cima duma haste, para curar os mordidos pelas serpentes venenosas (Num 21, 8-9). Manda, ainda, a Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com images de querubins, palmas, flores, bois e leões (I Reis 6, 23-35 e 7, 29). Ora, se Deus manda fazer imagens em várias passagens das Sagradas Escrituras (Ex 25, 17-22; 1Rs 6, 23-28; 1 Rs 6, 29s; Nm 21, 4-9; 1Rs 7, 23-26; 1 Rs 7, 28s; etc) e proíbe que se façam imagens em outra, de duas uma, ou Deus é contraditório ou fazer imagens não é idolatria! 

 

As imagens condenadas são aquelas que não indicam Deus, nada que lhe pertença, mas tão somente invenções humanas, coisas da imaginação e do interesse de quem deseja, de certo modo, dominar. As imagens permitidas são todas aqueles que indicam o próprio Deus e o que a Ele pertence como sinal de sua presença. Os Querumbins, por exemplo, são anjos de Deus, pertencem ao Senhor, não são ídolos, mas sinais da presença de Deus ali na Arca. 

Portanto, fica claro que o erro não está nas imagens, mas no tipo de culto que se presta a elas. 

 

Os Judeus, saindo da dominação egípcia, um povo idólatra, tinham muita tendência à idolatria. Basta ver o que aconteceu quando Moisés desceu do Monte Sinai com as Tábuas da Lei e encontrou o povo adorando o "Bezerro de Ouro" como se ele fosse uma divindade, um amuleto. É claro, como permitir que um povo tendente à idolatria fosse fazer imagens. 

 

Nas imagens católicas se representam os santos, que são pessoas que possuem virtudes que os tornam "semelhantes" a Deus, como afirmou S. Paulo: "já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim". 

 

Nas catacumbas dos primeiros cristãos encontram-se, em toda parte, imagens e estátuas da Virgem Maria; prova de que tal culto (não de adoração, mas de respeito, veneração) existia no tempo dos apóstolos e foi por eles praticado, ensinado e transmitido à posteridade. Uma das imagens de Nossa Senhora, segundo a tradição, foi pintada pelo próprio S. Lucas e está na catedral de Loreto, exposto à veneração dos fiéis. 

 

As imagens da Virgem Maria, Mãe de Deus por vontade de Deus mesmo, indicam alguém que pertence a Deus. Maria não é um ídolo, uma deusa inventada pelos homens, mas uma criatura pensada, criada, chamada a uma vocação altíssima, a de ser a Mãe de Deus na terra. A imagem de Maria indica que aquele lugar onde ela se encontra é um ambiente que pertence a Deus. 

 

O crucifixo indica não um ídolo, mas o próprio Jesus Cristo Nosso Salvador vitorioso, não derrotado, apesar de rejeitado pela humanidade, mas, por outro lado, totalmente voltado para o Pai e para o bem salvífico da humanidade. Então, quando fixamos nosso olhar no crucifixo não adoramos uma imagem, mas reconhecemos o ódio do mundo e o amor de Deus por nós. Na sexta-feira da paixão beijamos a cruz não como gesto de adoração, mas de reconhecimento do mistério salvífico de Jesus Cristo mediante a cruz. Jesus abraçou a cruz como condição de libertação do ser humano. Ao dizer adoração da cruz, não se diz adoração da madeira, mas de Jesus Cristo no mistério da Redenção humana. 

 

As imagens dos santos são também sinais daqueles que viveram totalmente para Deus, renunciando a vida do mundo para viverem exclusivamente a vontade de Deus. Os santos pertencem a Deus, não são ídolos, invenções humanas, mas homens e mulheres que viveram só para o Senhor. Ter sua imagem é como ter a fotografia de quem amamos conosco como uma forma de não esquecermos de viver aquelas mesmas virtudes. Virtudes essas que provêem da graça de Deus. Os santos não se davam à idolatria, pois os povos idólatras representavam as virtudes e os vícios em seus ídolos. 

 

Os iconoclastas dizem que latria (adoração exclusiva a Deus) é um termo que exprime uma ação mais fraca do que dulia (servir, ser servil, trabalhar, escravidão). Neste caso, dulia é mais importante do que latria, segundo ele, pois diz respeito ao ato de servir, que vai além da adoração. Pior ainda, dizem eles, é a hyperdulia, devida à Virgem Maria, pois significaria o mais elevado serviço, portanto a mais elevada adoração. 

 

Vejamos os termos: 

 

Latria[1]:

 

Λατρεια, ας: como substantivo feminino – significa: culto, adoração a um deus, etc. 

Λατρευμα, ατος: como substantivo neutro – serviço dos deuses. 

Λατρευδω: como verbo – significa: servir, adorar.

 

Dulia[2]:

 

Δουλεια, ας: como substantivo feminino (Δουλος) – significa: escravidão, servidão, submissão, dependência. 

Δουλειος, α, ον: como adjetivo – significa: escravo, servil.

Δουλευμια, ατος: como substantivo neutro – significa: escravatura, condição servil, escravo.

Δουλευω: como verbo – significa: ser escravo de, servir, obedecer.

 

O segundo termo (dulia) não tem, em seu mais profundo significado, nenhuma conotação religiosa de adoração, que é o ápice do reconhecimento da divindade, próprio do termo (latria), que quando se fala de serviço tem conotação religiosa de envolvimento com a divindade. 

 

Os santos

 

Sendo assim, dulia não é ser escravo de um santo, mas seguir seus ensinamentos e espiritualidade diante de Jesus, que é a razão de ser daquele que foi santificado, como também daquele que busca a comunhão com Deus. O santo não é aquele que assume o lugar de Deus, mas um irmão vitorioso, amado por Deus e vivo em Jesus Cristo. Não se ora a um santo como a um deus, mas se entra em comunhão com ele, mediante o Corpo Místico de Cristo. Afinal, estamos todos unidos em Cristo. Viver em comunhão com os santos não é dividir a honra devida somente a Deus (Is 42,8), muito pelo contrário, é honrar mais ainda a Deus, que mostrou sua vitória naquele ou naquela que enfrentou o mundo na fidelidade total ao Senhor. Na verdade, quem enfrenta os ídolos do mundo, colocando em Deus sua total confiança, certamente reinará com o Senhor.  Todo aquele que vive a Palavra de Deus caminha para a comunhão com Ele, e essa comunhão é participação na glória de Deus. Todo aquele que é de Deus é santificado NELE. A comunhão com os santos não é a mesma coisa que consultar os mortos (Dt 18,11), uma vez que esta significa uma tentativa de solução, segundo o pensamento de quem consulta, não esperando de Deus a resposta, mas colocando o próprio interesse em primeiro lugar. Os santos não são oniscientes nem onipresentes como Deus, mas fazem parte do Corpo de Cristo, e onde estar Cristo ali se encontram os Seus irmãos. Dar importância a um santo não é tê-lo como deus, mas descobrir uma espiritualidade com a qual se adequa para viver servindo ao Senhor. Um povo ou uma cidade tem um padroeiro não como um deus protetor ( Jr 11,13-14), mas como um sinal de Deus segundo a espiritualidade daquele santo. 

 

Hyperdulia

A Virgem Maria

 

A Virgem Maria não é dada a honra suprema de uma “deusa”. Hiperdulia não quer dizer suprema adoração, mas a mais elevada honra entre todas as criaturas, pelo fato mesmo de ter sido chamada, escolhida, preparada pelo próprio Deus e tornada, segundo a vontade do Senhor, mãe do Verbo encarnado. 

 

A Eucaristia

 

A Eucaristia não é um ídolo; não é um objeto de trigo ao qual a Igreja atribui vida, alma, chamando-a de consagrada e colocando-a para adoração dos fiéis. A Eucaristia não é um pedaço de pão qualquer, mas o próprio Jesus Cristo. Convém conferir: Mt 26,26ss; Mc 14,22ss; Lc 22,14ss; 1Cor 11,23ss; Jo 6,51-68. Quem afirma ser a Eucaristia um ídolo ainda caminha na estrada do homem velho, que ainda não experimentou o Ressuscitado, vivendo segundo os ditames de sua razão. Então, não existe uma hostiolatria, mas o mais elevado sinal de fé na Palavra de Jesus. Crer na Eucaristia significa dar o passo do homem velho para o homem novo, sair do velho testamento para o Novo, da antiga aliança para a nova e eterna aliança. Crer na Eucaristia é ser escândalo para os racionais, propagadores da fé em si mesmos. A Eucaristia não é a vinda definitiva de Jesus, mas Sua presença constante na Sua Igreja por ação do Espírito Santo: “Fazei isto em memória de mim”.

 

 

CONCÍLIO DE NICEIA II – CARTAS DO PAPA ADRIANO I

 

Uma carta ao imperador Constantino e Irene

Outra a Tarasio, patriarcar de Constantinopla.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Em que falsidade vive o homem? Certamente o papa fala da vida segundo a idolatria, que gera divisões. Somente na luz que é Cristo, o homem pode encontrar a verdade. O homem criado a imagem e semelhança do Verbo só pode ser bem-aventurado, vivendo segundo o mesmo Verbo, que restaura o homem como imagem e semelhança. O verdadeiro conhecimento de Cristo ilumina a inteligência do homem e o faz entender os enganos dos demônios. Contemplando Cristo, o homem vence as trevas e conquista a pureza de vida segundo Deus: 

 

 

 “Tu, purifica-te, deixando todo culto idolátrico e adora o único Deus, e caminha segundo a Sua vontade”[3].

 

E acrescenta: 

     

“… os cristãos se voltam à luz verdadeira e ao amor do culto divino e todos sejam desviados da idolatria dos pagãos e do engano dos demônios”[4].

 

Quanto às imagens, explicando a conversão de Constantino I, disse: 

 

“Ciente do bem que recebera, começou também ele a construir igrejas, elevando as mesmas imagens veneradas, por amor e recordação do nosso Senhor Jesus feito homem, e de todos os santos …”[5].

 

Em verdade, o papa Adriano I deixa claro que as imagens não são ídolos, não são, portanto, contrárias a Sagrada Escritura.

 

“… as sagradas imagens são veneradas por todos os fiéis, para que, por meio da forma visível, segundo a carne, que o Filho de Deus se dignou de assumir pela nossa salvação, a nossa mente seja sequestrada na ordem do Espírito à invisível grandeza divina, e nós adoremos o nosso Redentor que está nos céus e O louvemos, glorificando-O no Espírito, porque, como está escrito, Deus è Espírito (cf. Jo 4,24). Por isso, glorificando-O em espírito, adoramos a sua divindade. Não que nós desejemos divinizar as imagens, como alguns vão balvuciando; não seja nunca! A nossa tensão e afeto que nutrimos são orientados ao amor de Deus e dos seus santos. Como sustenta a nossa divina Escritura, nós usamos as imagens para nos recordar do culto que devemos render a Deus, conservando a pureza da nossa fé.”[6]

O papa, para justificar a sua explicação, coloca em evidência muitos textos da Sagrada Escritura[7]  e a Tradição da Igreja. Ele faz entender que as imagens são sinais de um encontro com Deus, sinais de salvação, sinais de agradecimento ao Senhor, sinais da presença divina na relação com o homem, sinais do amor de Deus, sinais da Sua potência, e sinais da faça de Deus[8]. Na medida que leva o homem ao mistério divino, as imagens são sinais da graça salvífica. O homem santificado ou divinizado è aquele que encontrou a primeira vocação no horizonte da sua existência, colocando em prática a bertura de seu ser à ação inicial de Deus. 

Por meio de Cristo, o homem alcança o mistério do Deus Uno e Trino, e na potência do Espírito Santo estabelecer a unidade que é reflexo do Deus que professamos. De Deus Uno e Trino vem a verdade para a Igreja e o seu futuro. Antes de tudo, se eleva o homem de Deus, depois a sua missão de fé, comunhão e salvação. Assim fazendo, a Igreja se afirma na unidade da fé (…). Não se pode entender nada fora da comunhão entre Deus e o homem, concretizada através do Verbo encarnado. 

 

PARTE I

 

As imagens no Antigo Testamento

 

A quarta sessão do concílio de Niceia II apresenta o verdadeiro sentido das sagradas imagens de modo mais profunda. O ponto de partida é a Sagrada Escritura, referimento importante no diálogo com os judeus e iconoclastas cristãos. Pode-se ver a questão em duas dimensões: a primeira como negação da idolatria; a segunda, como aprovação das imagens. 

 

I - Os iconoclastas

 

Os iconoclastas diziam que a adoração se deve somente a Deus: 

  •  “Não farás para ti escultura alguma, nem imagem alguma das coisas que são lá de cima nos céus e nas águas debaixo da terra; não te prostrarás diante a tais coisas e não servir a elas, porque Eu, o Eterno, o teu Deus, sou um Deus."(Ex 20,2-5; Dt 4,15-1).

 

Prostrar-se aqui tem o sentido de adoração. A expressão seguinte “Não servir a elas” justifica o sentido de prostrar-se como contrário a Deus. Nesse caso, não se trata de imagem simplesmente, mas de imagens ídolos. 

 

  • “Não façais para vós ídolos, não vos elevareis imagens esculpidas, nem estátuas e nem colocareis no vosso país alguma pedra ornada de figuras, para prostrar-vos diante dela, porque Eu sou o Eterno, o vosso Deus." (Levitico 26:1).

 

Nessa passagem, é claro o sentido idolátrico das imagens. Significa entender a imagem como ela fosse, em si mesma, uma realidade divina.

 

  • “Os magos, prostrados, adoraram Jesus” (Mt 2,11).

 

Essa passagem revela o verbo PROSTRAR-SE, mas seguido do verbo ADORAR como para reforçar não o gesto de adoração em si, mas para dizer quem é aquela criança. Aqui, o verbo PROSTRAR-SE encontra força junto ao verbo ADORAR, sem o qual o gesto de prostração poderia não dizer nada daquilo que o evangelista gostaria de transmitir[9]

 

  • “Todas essas coisas Eu as te darei, se prostrando-te me adorares” (Mt 4,9).

A reflexão aqui é a mesma já analisada acima. O Diabo deseja ser reconhecido como deus por Jesus. Assim fazendo, ele não se contenta com a prostração somente, porque essa não é sinônimo de entregar-se de coração, com toda a alma. A adoração, ao contrário, significa voltar-se para “… com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças” (Dt 6,4). Os iconoclastas, na verdade, confundem prostrar-se com adorar. 

  

  • “E eis que Jesus veio ao seu encontro e lhes disse: ‘Alegrai-vos!’. Elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram” (Mt 28,9). Jo 9,38: “E ele disse: ‘Creio, Senhor!’. E prostrou-se diante dele”.

 

Esses dois textos são usados não para explicar a divindade de Jesus, pelo menos nesse assunto, mas para dizer que a adoração é devida somente ao Senhor. Aqui existe uma interpretação errada por parte dos iconoclastas quando se referem aos ortodoxos quanto à fé cristã. A questão não se fixa em adorar aquela ou outra pessoa, porque, nesse caso, a adoração feita a Jesus é legítima[10]. O problema é saber distinguir o que significa a condenação aos ídolos e o verdadeiro uso das imagens. 

 

  • “Os que modelam ídolos nada são, as suas obras preciosas não lhes trazem nenhum proveito! Elas são as suas testemunhas, elas que nada vêem e nada sabem, para a sua própria vergonha. Quem fabrica um deus e funde um ídolo que de nada lhe pode valer? Certamente, todos os seus devotos ficarão envergonhados, bem como os seus artífices, que não passam de seres humanos. Reúnam-se todos eles e apresentem-se; todos eles se encherão de espanto e de vergonha! O ferreiro faz o machado na brasa, trabalha-o a martelo, fá-lo com a força do seu braço. Acaba faminto e sem forças; por não ter bebido água, sente-se cansado. O carpinteiro estende o cordel, esboça a imagem com o giz, trabalha-a com a plaina e a desenha com o compasso, dá-lhe a forma humana, a beleza de um ser humano, a fim de que habite uma casa. Cortou cedros, escolheu um terebinto e um carvalho, permitindo que crescessem vigorosos entre as árvores da floresta; plantou um abeto que a chuva fez crescer. Os homens o empregam para queimar; ele mesmo tomou dele para aquecer-se; pôs-lhe fogo e assou pães. Com outra parte fez um deus e o adorou, fabricou um ídolo e se prostou diante dele. Uma metade ele queimou ao fogo; com ela fez um assado, que come até saciar-se. Aquece-se ao fogo e diz: ‘Que delícia! Aqueci-me e vi a luz’. Com o resto faz um deus – o seu ídolo -, prostra-se diante dele e o adora e lhe dirige súplicas, dizendo: ‘Salva-me, proque tu és o meu deus’.  Eles nada sabem nem entendem, porque os seus olhos são incapazes de ver e os seus corações não conseguem compreender. Nenhum deles tem conhecimento ou inteligência para dizer: ‘A metade queimei ao fogo, com ela assei pão sobre a brasa, assei carne e a comi; com o resto fiz uma coisa abominável e me prostrei diante de um pedaço de lenha!’ Aquele que se apascenta de cinzas, o seu coração ludibriado o desencaminha: ele não consegue salvar a sua vida nem è capaz de dizer: ‘Aquilo que tenho na minha mão não será apenas uma mentira?" (Isaia. 44: 9-20).

  • “Reuni-vos e vinde! Chegai-vos todos juntos, vós os que escapastes às nações! Não têm conhecimento os que carregam os seus ídolos de madeira, os que dirigem as suas súplicas a um deus que não pode salvar” (Is 45,20). 

 

Exemplos de ídolos:

Baal, Hórus, Ísis e Anúbis (Egípcios).

      

Exu Caveira, Exu Belzeul, Ogum (Brasil)

 

Ashtart/Inanna: deusa do amor e da guerra (Mesopotâmia)

 

Anat/Anut: deusa da fertilidade e da guerra

 

Esses versículos usados pelos iconoclastas, em si mesmos já trazem a legítima resposta quando dizem “Os seus ídolos… forma ídolo… faz seu deus…”. Diante desses textos surgem duas perguntas: O que é ídolo? E o que é ícone ou imagem? Se bem que as respostas acima já  podem mostrar a diferença entre as duas coisas, mas convém deixar claro aquilo que fala a Sagrada Escritura. Ídolo vem de uma palavra grega: 

 

  1. είδωλον, ου[11] - como substantivo neutro - significa fantasma, figura, imagem, simulacro, etc. 

  2. είδω[12] - come verbo – ultrapassa o significato somente de imagem e assume a condição ativa no sentido de que faz alguma coisa. Por exemplo: ser capaz de, ter tais sentimentos, entender de, etc. Se se pega o substantivo e o verbo pode afirmar-se que o ídolo é aquilo que aparece capaz de qualquer coisa como se fosse um ser absoluto. Ou ainda, como alguma coisa que se coloca como se fosse poderoso e capaz de sentimentos, mas que não passa de um mero fantasma. Na Sagrada Escritura, o ídolo è uma figura (coisas, animais ou pessoas) contrária a Deus, colocada em Seu lugar. 

 

Já quando se fala sobre Ícone, vem também uma outra palavra grega: 

 

  1. Είκω[13] – como verbo - significa: ser semelhante, lembrar, lembrar alguma coisa ou alguém, parecer, ter o aspecto de. 

  2. Είκων, όνος[14] –  como substantivo masculino – significa imagem, retrato, estátua, quadro, ícone e semelhança.  

  3. Είκώς, υια, ός[15] – como adjetivo – significa semelhante, conveniente, racional, próprio, natural, credível e provável. 

 

A palavra είκω, diferentemente de είδω, não indica poder ou capacidade de alguma coisa, não tem nenhum significado de sentimento, mas somente o sentido de semelhança tanto para o verbo quanto para o substantivo e adjetivo. Nesse sentido, deve-se fazer a diferença entre os textos que proíbem a confecção de imagens como ídolos e imagens que são admitidas. Seguem os outros textos com o mesmo significado: 

 

  • “Os seus ídolos são prata e ouro, obra das mãos do homem. Têm boca e não falam, têm olhos e não vêem, têm ouvidos e não ouvem, têm nariz e não cheiram, têm mãos e não tocam, têm pés e não andam, a sua garganta não rende algum som.." (Sl 115:4-9; 135:15; Habacuc 2:18-20.

 

  • “Sim, os costumes dos povos são vaidade, apenas madeira cortada da floresta, obra da mão de um artista com o cinzel. Eles a enfeitam com prata e outro. Com pregos e com martelos a firmam, para que não vacile. Eles são um espantalho em um campo de pepinos. Eles não podem falar; devem ser carregados, porque não podem caminhar! Não tenhais medo deles, porque não podem fazer o mal e nem o bem tampouco… Eles todos são ignorantes e insensatos: o ensinamento das vaidades é madeira! Prata batida, importanda de Társis e outro de Ofir, obra de um escultor e das mãos de um ourives; sua veste é púrpura violeta e escarlate, tudo obra de mestres." (Jr 10:3-5.8).

 

  • “Não têm conhecimento aqueles que carregam os seus ídolos de madeira, os que oram a um deus que não pode salvar." (Is 45,20).

 

  • “Há os que tiram ouro da sua bolsa e pesam prata na balança, contratam um ourives para lhes fazer um deus, prostram-se diante dele e o adoram. Em seguida, põem-no sobre os ombros e carregam-no, colocam-no no seu lugar para que aí fique, sem afastar-se da sua posição. Por mais que alguém o chame, ele não responde, da sua tribulação não se salva." (Is 46,6-7).

 

  • “O que, então, pretendem dizer? Que a carne sacrificada aos ídolos vale alguma coisa? Ou que um ídolo vale alguma coisa? Não, mas digo que aqueles sacrifícios são oferecidos aos demônios e não a Deus. Ora, eu não desejo que vós entreis em comunhão com os demônios; não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou desejamos provocar o ciúme do Senhor? (Dt 4,24). Somos, talvez, mais fortes que ele (1Cor 10,19-22).

 

  • “Provocaram meu ciúme com um deus falso, e me irritaram com seus ídolos vazios…;" (Dt 32,21; cf. Jr 7,18).

 

  • “Eis porque, meus bens-amados, fugi da idolatria!" (I Cor 10,14).

 

  • “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (I Jo 5,21).

 

 

II - Teólogos do Concílio

 

Os teólogos do concílio niceno II, tomando a palavra είκων, revelam a importância das imagens, tendo como base a mesma Sagrada Escritura:

 

  • “Farás dois querubins de outro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório” (Ex 25,18-20.

 

  • “… estavam esculpidos querubins e palmeiras, uma palmeira entre dois querubins. Cada querubin tinha duas faces: uma face de homem voltada para a palmeira de um lado e uma face de leão voltada para a palmeira do outro lado, isso em torno do Templo. Os querubins e as palmeiras estavam esculpidos sobre o muro, desde o chão até em cima da entrada.” (Ez 41,16-19).

 

  • No Templo do Senhor, sacrário feito com “dois querubins de madeira de oliva”, (cf. 1Rs 6,23-35). Ainda mais foram feitas figuras de leões, bois e outros querubins (cf. 1Reis 7,25.29.44; 8,7).

 

  • “Mas seu pai insistiu: ‘Jura-me’. E ele jurou, enquanto Israel se prostrou sobre seu cajado”. (Gn 47,31). São Leôncio pergunta aos judeus: ‘Se tu me reprovas porque venero a cruz como se fosse Deus, porque não reprovas Jacó que se prostrou sobre o cajado de José”?[16]

 

  • Ainda mais se acrescenta que “Abraão se prostou diante de homens ímpios que lhe vendiam o sepulcro, e dobrou os joelhos até o chão (cf. Gn 23,7); mas não tributou-lhes esse gesto de homenagem como se fossem deus”[17].

 

  • Jacó abençoou Faraó, sendo um ímpio e idólatra, mas não o considerava um deus (cf. Gn 47,10). Além disso, prostrou-se por terra diante de Esaú, mas certamente não o considerando deus (cf. Gn 33,3).

 

  • A criação ajuda a adorar o Senhor (cf. Sl 98.5.9; Is 66,1).

 

  • Árvore da vida, árvore do (cf. Gn 2,9). Uma outra planta chamada  sabek – remissão – (cf. Gn 22,13). Uma vara que cobriu Faraó, dividiu o mar, tornou doce a água, uma haste na qual foi suspensa a serpente, uma vara que dividiu uma rocha (cf. Ex 14,16ss; 15,25; Nm 21,8-9; Ex 17,5-6). Uma árvore, um pedaço de lenha, o bastão como sinais de Deus (cf. Sb 14,7; 2Rs 6,6; 4,29)[18]: “Bendito seja o lenho pelo qual vem a justiça” (Sb 14,7). 

 

  • Os ossos são honrados: “Moisés leva consigo os ossos de José” (cf. Ex 13,19); um morto recobrou a vida ao tocar os ossos do profeta Eliseu (cf. 2Rs 13,21); Abraão honra o corpo de Sara (cf. Gn 23,1ss); Jacó honra Deus com uma pedra (cf. Gn 28,18); ele chamou um monte de pedras como testemunho conta Labão (cf. Gn 31,46-48); Josué põe doze pedras como testemunho para recordar Deus (cf. Js 4,1-9)[19]. No texto de Josué existe não somente a valorização do sinal das pedras, como também a valorização do “lugar onde os sacerdotes puseram seus pés” (Js 4,9). 

 

Portanto, as imagens podem ser memoriais[20], figuras, representações dos santos, mas nunca utilizadas para adoração. Não se adora o lenho da cruz, mas o Filho de Deus morto para a salvação de todos. O madeira por si mesmo não significa nada no contexto da fé, mas quando recorda Aquele que nela foi Crucificado, então ela se torna um sinal do mistério redentor de Jeus Cristo. Convém lembrar que os judeus do Antigo Testamento usavam madeiras, pedras, pessoas, animais, isto é, muitas coisas  como forma de comunhão com Deus, conforme foi visto nos textos acima. 

 

 “quando nos inclinamos diante da figura da cruz, não honramos a natureza da madeira, mas,  olhando o selo, o anel e a figura de Cristo, pro meio deles saudamos e adoramos Aquele que foi Crucificado”.[21]

 

“Como Jacó, recebida dos seus filhos a tunica colorida e ensanguentada de José, beijo-a chorando e a colocou em seus olhos, e não o fez porque amava ou honrava a veste, mas porque pensava que com ela beijava José e o tinha entre os seus braços. Assim também, todos nós cristãos, tendo ou abraçando uma imagem de Cristo ou de um apóstolos ou de um mártire, pensamos de ter com a carne, com a alma, Cristo mesmo e o Seu mártire”[22].

 

“… os povos cristãos, quando beijam as numerosas figuras da cruz e das imagens, não rendem culto às madeiras ou às pedras ou ao ouro ou às imagens corruptíveis ou à urna ou às relíquias, mas por meio dessas coisas rendem glória e veneração e culto a Deus que criou estas coisas e tudo. Na verdade, a honra dada aos seus santos retorno a Ele… A imagem de Deus é o homem, que foi criado a Sua imagem e, sobretudo, recebeu o dom de se tornar habitação do Espírito Santo (cf. Lv 26,11-12)”[23].

 

 “Quem ama o seu amigo, seja que veja o rei, sobretudo se bem-feitor, ou seu filho, ou o bastao, ou o trono, ou a coroa, ou a casa, ou o servo, ou tem e o saúda, e honra através de tudo isso o bem-feitor e, sobretudo, Deus”[24]

 

“Quem, de fato, honra o mártire, honra Deus; quem venera a mãe DELE, tribute-LHE a honra. Quem honra o apóstolos, honra Aquele que o enviou”[25].

 

Ø  Nas catacumbas encontram-se, em toda parte, imagens e estátuas da Virgem Maria; prova de que tal culto existia no tempo dos apóstolos e foi por eles praticado, ensinado e transmitido à posteridade. Uma das imagens de Nossa Senhora, segundo a tradição, foi pintada pelo próprio S. Lucas e está na catedral de Loreto, exposto à veneração dos fiéis. 

Ø  As imagens católicas representam pessoas virtuosas. Virtude essa que provém da graça de Deus. O mesmo não se dava na idolatria, pois os povos idólatras representavam as virtudes e os vícios em seus ídolos. 

Ø  O Concílio de Trento formalmente legitimou o uso das imagens: As imagens de Jesus Cristo, da Mãe de Deus, e dos outros santos, podem ser adquiridas e conservadas, sobretudo nas Igrejas, e se lhes pode prestar honra e veneração; não porque há nelas qualquer virtude ou qualquer coisa de divino, ou para delas alcançar qualquer auxílio, ou porque se tenha nelas confiança, como os pagãos de outrora, que colocavam a sua esperança nos ídolos, mas, sim, porque o culto que lhes é prestado dirige-se ao original que representam, de modo que nas imanges que possuímos, diante das quais nos descobrimos ou inclinamos a cabeça, nós adoramos Cristo, e veneramos os santos que elas representam (Sess XXV). 

Ø  O Concílio de Nicéia, o primeiro celebrado na Igreja, no ano de 325, sob o Papa S. Silvestre I e o imperador Constantino, defende o culto das imagens contra os iconoclastas, com um vigor admirável. 

Ø  Lê-se nos atos deste concílio: Nós recebemos o culto das imagens, e ferimos de anátema os que procedem de modo contrário. Anátema a todo aquele que aplica às santas imagens os textos da escritura contra os ídolos. Anátema a todo aquele que as chama ídolos. Anátema àqueles que ousam dizer que a Igreja presta culto a ídolos. 

 

 

CONCLUSÃO 

 

 

  •  “Uma coisa è a imagem, e outra è o protótipo; nenhuma pessoa de senso procura na imagem as propriedades do protótipo”[26]

 

  • Não se faz imagem da divindade, mas da pessoa na sua humanidade, enquanto circunscrita, na realidade humana. Aqui a reflexão se baseia em Éfeso. A verdade da união hipostática pode ser contemplada no ícone, que não è a imagem da natureza simplesmente, mas da pessoa segundo a sua humanidade.
     

  • Importante a ênfase dada ao nome Cristo[27], que “… significa a divindade e a humanidade, as duas naturezas perfeitas do Salvador”, fundamento para os cristãos pintarem as imagens de Jesus segundo aquilo que è visível. Isso não significa dividir a Pessoa divina do Verbo. Assim fazia Nestório, quando falava de duas pessoas em Jesus. A Igreja compreende que a humanidade de Jesus foi elevada, divinizada, sendo natureza da mesma Pessoa divina do Verbo. 
     

  • Nesse sentido, a imagem não è da natureza, mas da pessoa segunda a sua natureza divinizada[28] e que as duas naturezas são “sem confusão, sem mutação, sem divisão e sem separação”[29]. Também a alma è deificada no Verbo: “… a Sua divindade permanece indivisa também na mesma separação da alma do corpo durante a Sua paixão voluntária. Na verdade, onde está a alma de Cristo, alí está também a divindade”[30]. E com a morte, o que è que acontece com o corpo e a alma de Jesus? Permaneceram inseparáveis da divindade[31].

 

  • O último ponto se refere à Eucaristia. O pão e o vinho são tomados por Jesus e transformados segundo a Sua vontade, tornando-se Corpo e Sangue do Senhor. Não se pode dizer, depois da consagração, que são imagens do corpo e do sangue, mas que são Cristo mesmo, como alimento de vida eterna[32]
     

  • A imagem conduz ao protótipo[33].

 

  • Fixando os olhos nas imagens de Jesus Cristo, os cristãos não se prendem à figura, mas, em espírito e verdade, adoram o Senhor que è Deus. Aqui está uma tremenda diferença entre cristãos, judeus e pagãos. Os judeus crêem em Deus como se Ele fosse uma única pessoa; os pagãos crêem em muitos deuses; os cristãos, diante da Revelação, tem uma resposta aos judeus, afirmando que Deus è Um na essência, substância e natureza, mas não única pessoa, uma vez que Deus è Pai, Filho e Espírito Santo. Aos pagãos, os cristãos dizem que Deus è três, sendo Um, mas não três deuses, senão três Pessoas em um só Deus[34]. Os heréticos também mutilavam a fé ou negando a divindade de Jesus ou a humanidade e, consequentemente, não entendiam as imagens na Igreja[35].

 

  • A Encarnação santifica o homem aberto ao Senhor. Maria è chamada a mais elevada nos céus e mais santa que os querubins[36];  a salvação veio a todos e è força no combate à idolatria[37]; a natureza humana è regenerada por meio do Espírito Santo[38], livre do poder da morte e do domínio da carne[39].

 

  • Por que Cristo morreu se è Deus? “Este è o sinal da fraqueza da carne … o Verbo se fez carne e morreu por todos nós, e assim nós O temos conhecido segundo a carne. Mas agora não O conhecemos mais assim. Agora è na carne – na verdade ressuscitou depois de três dias e subiu ao céu – mas elevado pra além da carne. Não morre mais, de fato, e não sofre enfermidade própria da da carne, mas como Deus è superior a tudo isso”[40]. Se bem que, sendo humano, “Ele não cometeu pecado e não se encontrou engano na sua boca”[41].

 

 

  • O motivo das imagens: “Nós não lhes louvamos ou pintamos por amor natural; mas, porque desejamos chegar, com a imitação, as suas virtudes, representamos as suas vidas nos livros e lhes reproduzimos em imagens, não porque tenhamos necessidade de ser exaltados com uma pintura ou retrato sobre uma imagem; mas proque, como temos dito, è a nosso favor aquilo que fazemos. Na verdade, são instrutivas para a nossa salvação…”[42].

 

  • A imagem deve conduzir à vida virtuosa, colocando em prática as virtudes vividas pelos protótipos: “De fato, a nós não interessa desenhar o seu comportamento com uma vida virtuosa. O que nos interessa, na verdade, è abraçar a vida dos homens bons, imitar suas ações e amar o seu comportamento”[43]

 

  • As imagens somente como adorno não tem sentido e constitui uma estupidez. “Pintar, porém, muitas cruzes em um quarto e ignorar os mandamentos de Cristo e a imitação dos Seus sofrimentos è próprio dos insensatos. Sem as obras a fé è morta (cf. Gc 2,17). Disse o Senhor no Evangelho: ‘Não è dizendo Senhor, Senhor que entrareis no Reino dos céus, mas quem faz a vontade do meu Pai que está nos céus’” (Mt 7,21)[44].

 

  • A imagem deve ser um estímulo à vida segundo ensina o seu protótipo. A veneração è reconhecimento da santidade de Deus nas pessoas e nas coisas. Todas as coisas ou pessoas consagradas a Deus pertencem a Ele e carrega Sua santidade e, por isso, devem ser veneradas: “Saudamos e veneramos todas as coisas que foram ofertadas e dedicadas a Ele, seja a divina figura da cruz preciosa, seja o Evangelho, sejam as veneráveis imagens, sejam os vasos sagrados,…”[45].

O Concílio Niceno II, no Tomo sexto[46] – condena:

 

  • Quem não professa a fé da Igreja dos seis precedentes concílios. 

  • Qui adora as imagens em si mesmas. 

  • Quem procura circunscrever, em forma humana, a essência divina e não crê que depois da Encarnação o Verbo permanece Deus, igualmente incircunscrito. 

  • Quem faz imagem sem a verdadeira fé na união hipostática, gerando confusão de natureza. 

  • Quem entende a natureza humana do Verbo como puro conceito e ainda faz uma imagem (a imagem não deve ser uma invenção, mas um autêntico sinal). 

  • Quem divide Jesus em duas substâncias, como duas pessoas, compreendendo a união como acidental. 

  • Quem nega a divinização da humanidade de Jesus.

  • Quem pinta uma imagem como se o Verbo de Deus fosse um simples homem.

  • Quem nega a sempre Virgem Maria realmente e verdadeiramente Mãe de Deus, superior a toda criatura visível e invisível, e não invoca a sua intercessão.  

  • Quem faz imagem sem compromisso com as virtudes. 

  • Quem nega que todos os santos são dignos de ser por Deus honrados e não recorrem à sua intercessão. 

  • Quem refuta a ressurreição dos mortos, o juízo, a retribuição e a eternidade sem fim do castigo. 

  • Quem nega o sétimo concílio.

 

[1] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-portugues e portugues-grego, 343.

[2] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-portugues e portugues-grego, 152.

[3] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 98

[4] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 98

[5] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 98

[6] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 99

[7] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 100-101

[8] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 101-105

[9] De fato, Santo Anastácio faz notar que o verbo prostrar-se pode exprimir apenas uma manifestação de honra: “Niguém se sinta afetado pelo termo proskynesis. Na verdade, nós veneramos homens e anjos santos, mas não lhes adoramos. ‘Prostrar-vos-eis diante do Senhor teu Deus’ – disse, de fato, Moisés – ‘e a Ele somente renderais culto’ (cf. Dt 6,13; Mt 4,10). Vejais como em ‘renderai culto’ (latréyseis) foi acrescido ‘somente’; nenhum acréscimo, invés, em ‘prostrar-vos-eis’ (proskynèseis), de modo que è lícito prostrar-se: a prostração è demonstração de honra; de qualquer modo, invés, é uma forma de se render culto, portanto nem mesmo o orar. Enquanto isso, um dirá essas coisas com respeito ao primeiro termo; mas o segundo está sujeito às opiniões de muitos, não tendo feito experiência da leitura interior” (Cfr. Atti del concili Nicea secondo, pag. 188). 

[10] “E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado unigênito do Pai, isto è, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, da mesma substância do Pai …” (Concílio Niceno I, DS 125).

[11] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-portugues e portugues-grego, Braga, 1990.

[12] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-protugues e portugues-grego, Braga, 1990.

[13] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-protugues e portugues-grego, Braga, 1990.

[14] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-protugues e portugues-grego, Braga, 1990.

[15] Isidro Pereira, s.j, Dicionario grego-protugues e portugues-grego, Braga, 1990.

[16] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 183.

[17] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 183.

[18] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 185-186.

[19] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 186.

[20] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pag. 182.

[21]  Atti del concilio niceno secondo, 182.

[22] Atti del concilio niceno secondo, 183.

[23] Atti del concilio niceno secondo, 185. 

[24] Atti del concilio niceno secondo, 187.

[25] Atti del concilio niceno secondo, 187.

[26] Atti del concilio niceno secondo, p. 308

[27] Χριστός, ή, όν: Unto.

[28] “Bisogna infatti considerare che, se secondo i padri ortodossi la carne, che è nello stesso tempo carne del Verbo di Dio, mai intesa nel senso della divisione, ma tutta interamente assunta dalla natura divina, (Mansi XIII, 257) è deificata, …” (Atti del concilio niceno secondo, pag. 307).

[29] Denzinger, 302.

[30] Atti del concilio niceno secondo, p. 307

[31] Atti del concilio niceno secondo, p. 308

[32] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pp. 311-313

[33] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 348

[34] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 318

[35] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 319

[36] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 320

[37] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 325

[38] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 326

[39] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 327

[40] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 327

[41] Cfr. 1Pt 2,22.

[42] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 335

 

[43] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 335

[44] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 336

[45] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, p. 339

[46] Cfr. Atti del concilio niceno secondo, pp. 350-364

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